segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Prefiro cinema. Prefiro os gatos. Prefiro os carvalhos nas margens do Warta. Prefiro Dickens a Dostoievski. Prefiro-me gostando dos homens em vez de estar amando a humanidade. Prefiro ter uma agulha preparada com a linha. Prefiro a cor verde. Prefiro não afirmar que a razão é culpada de tudo. Prefiro as excepções. Prefiro sair mais cedo. Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa. Prefiro as velhas ilustrações listradas. Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não os escrever. No amor prefiro os aniversários não redondos para serem comemorados cada dia. Prefiro os moralistas, que não prometem nada. Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais. Prefiro a terra à paisana. Prefiro os países conquistados aos países conquistadores. Prefiro ter objecções. Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem. Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes dos jornais Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas. Prefiro os cães com o rabo não cortado. Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros. Prefiro as gavetas. Prefiro muitas coisas que aqui não disse, a outras tantas não mencionadas aqui. Prefiro os zeros à solta a tê-los numa fila junto ao algarismo. Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas. Prefiro isolar. Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando Prefiro levar em consideração até a possibilidade do ser ter a sua razão.

Winslawa Szymborska

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008







Just Whisper

I was walkin down a road


I was movin down a road


Walkin down a road, movin down a road


And saw you comin by


I was walkin down a road


I was movin down a road


Walkin down a road, movin down a road


And saw you comin' by


Walkin down a road, movin down a road


And saw you comin by


I was walkin down a road


Movin down a road


You were comin down a road


I saw you comin' down a road


I turned around you turned around


And now we're walkin down a road


Now we're movin down a road


I see you movin down a road


I see you walkin down a road


You see me walkin down a road


You see me movin down a road

Jandek
10 Jan 2009 - das 19:00 às 21:00 - AUDITÓRIO

"Estreia nacional da que é “uma das figuras mais fascinantes da música do século XX” (e dos dias de hoje), e provavelmente o homem que levou a solidão e isolamento no processo de trabalho aos maiores extremos em toda a história conhecida da música independente. Eremita, compositor de canções de abandono, entropia e superação, é editado pela misteriosa Corwood Industries desde o final dos anos 70 e, dezenas de discos e quase 30 anos depois de arrancar a carreira, apresentou-se pela primeira ao mundo (sem nunca ter dado entrevistas, sem nunca ter comunicado com os media em discurso directo) num concerto em Glasgow, em 2004, onde não vinha sequer listado.Desde então realiza um número bastante limitado de actuações por ano, pelo que é um enorme prazer anunciarmos que a Filho Único e o Auditório de Serralves, em co-produção, irão apresentar um concerto deste criador. "

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O corpo tem abóbadas onde soam os
sentidos, se tocados de leve, ecoando longamente
como memórias de outra vida
em frios desertos ou praias de lama.
O passado não está ainda preparado para nós,
para não falar do futuro; é certo que
temos um corpo, mas é um corpo inerte,
feito mais de coisas como esperança e desejo
do que de carne, sangue, cabelo,
e desabitado de línguas e de astros
e de noites escuras, e nenhuma beleza o tortura
mas a morte, a dor e a certeza de que
não está aqui nem tem para onde ir.

Lemos de mais e escrevemos de mais,
e afastámo-nos de mais – pois o preço era
muito alto para o que podíamos pagar –
da alegria das línguas. Ficaram estreitas
passagens entre frio e calor
e entre certo e errado
por onde entramos como num quarto de pensão
com um nome suposto; e quanto a
tragédia, e mesmo quanto a drama moral,
foi o melhor que conseguimos.
A beleza do corpo amado é
(agora sabemo-lo) lixo orgânico.
O mármore que pudemos foi o das casas de banho
e o dos balcões dos bancos,
e grandes gestos nem nos romances,
quanto mais nos versos! E do amor
melhor é nem falar porque as línguas
tornaram-se objecto de estudo médico
e nenhuma palavra é já suficientemente secreta.

Corpo, corpo, porque me abandonaste?
“Tomai, comei”, pois sim, mas quando
a química não chega para adormecermos,
a que divindades havemos de nos acolher
senão àquelas últimas do passado soterradas
sob tanta chuva ácida e tanta investigação histórica,
tanta psicologia e tanta antropologia?

A memória, sem o corpo, não é ascensão nem recomeço,
e, sem ela, o corpo é incapaz de nudez
e de amor. Agora podemos calar-nos
sem temer o silêncio nem a culpa
porque já não há tais palavras.

Manuel António Pina

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Dá-me
Dá-me algo mais que silêncio ou doçura
Algo que tenhas e não saibas
Não quero dádivas raras
Dá-me uma pedra.
Não fiques imóvel fitando-me
como se quisesses dizer
que há muitas coisas mudas
ocultas no que se diz
Dá-me algo lento e fino
como uma faca nas costas
E se nada tens para dar-me
dá-me tudo o que te falta!

In Dozes Nós Numa Corda, Poemas traduzidos para português por Herberto Helder

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Provoco danos, não sabendo se irreversíveis, ao tentar unicamente estrangular por pensamentos a bondade. Provoco esses pensamentos como quem foge do local do crime e volta para o recordar. Provoco, são labirintos meramente. Em que chegar ao ponto de partida jamais se fará pelo mesmo caminho. O fim não é difícil, prevejo que o que será mais difícil é recordar o mais importante: o caminho menos percorrido! - e quem quer chegar ao fim? A morte. A hipótese de um recomeço? A vingança do sofredor? (…) Pediste a mão que era para ser uma mão-dada-inteiramente-dada-no-momento-exacto, eis o reflexo oposto, um não-gesto-num-não-olhar, apenas o nome: VAZIO. Provoco a insignificância querendo ser o depois do desastre, não receando provocações do mundo, a não ser de mim. (Desastre. Metaforicamente escrevendo). Falava em astúcia. O que significará em Berlim? Muito dissemelhante daqui? Ou de um país tropical? Rico em frutos de cores quentes? A população sobrevive do turismo exportado e preguiça intermitente ao sabor sem sabor da imaginação perdida. Como reinventar forçosamente a criatividade? Apelidam-na como inteligência. Irónico. Quando um robô é mais inauguralmente aplaudido que a modéstia e profissionalidade de um trabalhador? A dimensão do outro expressa-se nos pobres rasgos de altruísmo, que de tempos a tempos, todos decidimos contemplar o nosso alvo (de preferência e sempre com preferência) objectivamente escolhido. E cuidado, podes ser sempre apontado como demasiado benevolente ou submissamente permissivo? A dimensão do outro, perdida para sermos nós – egoístas – matando a hipótese de ser outro, sermos os outros. Esta aragem corre no ar e, se a inspiramos, maliciosa, curará absolvendo o mal em detrimento do bem. Absolvam-se os culpados. Reinarão os culpados. Mas qual reino? Sem reino? Sem verdade? Provoco danos, talvez, talvez irreversíveis, em mim, para mim, para sempre? E o que interessa? O que somos senão o que deixamos de ser? Magoarmo-nos nas mesmas coisas. Onde estão os resultados dos danos reversíveis? Tenho algum frio para, daqui a pouco, sentir falta de calor. Imagina que até a temperatura do teu corpo se converte num comando de pé, em que o pisas, recalcas, insistes: temperatura-humor-tempo-lá-fora-os-outros, tudo, absolutamente tudo, em equilíbrio programável? Hoje. Agora e depois. Totalmente Irreversíveis.

andrea

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008












Como escreve Pedro Guerra:

O coração contorce-se em cada imagem, as lágrimas quase que deslizam pela cara: http://www.dayswithmyfather.com/

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