quinta-feira, 16 de julho de 2009

prefiro...



a reacção da água oxigenada na pele,
as dunas cheias de vegetação,
o confronto à cobardia,
o céu rosa-azul-vermelho de todos os pôr-do-sol,
o som de uma ribeira...
o não saber tocar piano a não poder ouvi-lo

sexta-feira, 10 de julho de 2009



hoje acordei com dores no futuro
do lado esquerdo do possível. uma vaga sensação de dor de cabeça entre o que podia ter sido e o que é.
alguma coisa me diz que esta dor vai ficar; é assim aos trinta, o corpo começa a ter hábitos, um esticão naquele joelho, a enxaqueca depois da ressaca. alguma coisa me diz que esta dor se semeou em mim, coisa que nasce na alma e porque é mais real que o real, estaciona-se no meu corpo, tem braços e queixas e manifestações. e cresce, cresce sobretudo quando não dou por isso, quando o lado esquerdo do possível morre um pouco mais. aí mergulha dentro de mim mesmo, expande-se, e aquilo que se via de frente para o futuro fica um pouco mais escuro.
não acredito em dores domesticadas: pertencem a quem quer sofás na alma. acredito em dores identificadas, olhos nos olhos, que andam connosco dentro do peito, uma cicatriz que abre tanto que um dia pode até trazer luz, sem esperarmos por isso. podem fazer muito por nós, e dentro dessa dor posso levantar-me, dar de beber ao mundo, compreender o coração que nunca terei.
são grandes espelhos, rasos como lâminas, e tão férteis que o sol dói quando se olham de dentro até ao futuro.
Publicada por Pedro Sena-Lino em
Segunda-feira, Junho 29, 2009 3 comentários


terça-feira, 7 de julho de 2009

as mãos pegam no que já fugiu para longe
os pontos de referência, apenas isso
começa tudo do zero nesta estação
partidas e chegadas
momentos em malas
souvenirs ocos caem ao chão
vens atrás e apanhas um a um numa pressa sôfrega
ficas sem espaço nos braços caem descaem
partem-se contigo
e segues vazio

entreguei-te a morada para meteres lá o que ninguém soube
ficas com um para que sirva para nada
continuo sozinho
deixo tudo para trás
as coisas para que servem?
quero vida por dentro
o mais importante do que não importa.

No cais dos perdidos e achados estão os bonecos/ em forma de laços apertados/ alargam as paredes e por entre os dedos caem como areia os dias
Na busca de estações inéditas não apreciam o insignificante
Para lá do imprevisto vive o medo
Seguras-me na mão
A água está fria
Para lá do frio vive o medo
Aproxima-te! a palavra final vem dentro dum caixote branco
Para lá do branco vive o medo
Para lá desta linha não sei.


andrea

sexta-feira, 3 de julho de 2009

aproximam-se mudanças


Vamos fazer limpeza, mas geral

e vamos deitar fora as coisas todas

que não nos servem para nada, essas

coisas que não usamos já e essas

que nada fazem mais que apanhar pó,

as que evitamos encontrar porquanto

nos trazem as lembranças mais amargas,

as que nos fazem mal, enchem espaço

ou não quisemos nunca ter por perto.

Vamos fazer limpeza, mas geral,

talvez melhor ainda uma mudança

que nos permita abandonar as coisas

sem sequer lhes tocar, sem nos sujarmos,

que fiquem onde sempre têm estado;

vamos embora só nós, vida minha,

para voltar a acumular de novo.

Amalia Bautista

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