quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Tic Tac

Abriste rápido. Terá sido o desejo ou o nervosismo?
Olho para ti e nunca sei se estás a sorrir ou se é um tique, acto involuntário, que expressas sem te aperceberes.
Quando me vês sorris.
Quando te vejo ri-o.
Vejo em ti a espontaneidade e pureza que eu não tenho. As amarras a que estou presa num quotidiano repetido permitem-me, paralelamente ao teu sorriso aberto, sentir que hoje sou livre. Estás na minha mente. Hoje procuro inspiração em ti.
Aliás, era importante que o fosses para todos. Sabes porquê? Eu digo-te.

Ouves uma música na rádio, gostas dela e qual é o teu ímpeto? Dançar.
Estejas onde estiveres, seja no consultório ou a ver e-mail, seja a almoçar em família, ou na escola, ou no banho e supermercado.
Vem de dentro de ti a "música do coração".
Danças sem pudor, sem preconceitos, como se não houvesse mundo em teu redor.
Eu. Eu observo-te e tento acompanhar-te. Gesticulo timidamente. Olho desconfiada para a multidão e penso que todos devíamos ser como tu: pura.

Hoje vens um pouco triste. Meto conversa contigo e tu encolhida, apenas me olhas...
O que tens? - Pergunto-te preocupada.
Respondes que não consegues contrariar a passagem do tempo. Respondes que és feliz. Que te sentes feliz.
Envoltas num silêncio perturbador deixo-te reflectir. Tento entender o teu olhar. Não sei descrevê-lo. Desculpa.

Partes sem nada dizer e se eras libertação e espontaneidade outrora, hoje representas a prisão dos meus movimentos.
Temos pouco tempo para estar aqui. É necessário este trajecto para que um dia mais tarde possa entender que no teu silêncio, outrora cálido e reconfortante, existem agora palavras sem eco, sem sentido, confusas...

Deixaste de aparecer. Deixaste-me aqui, presa ao tempo de ilusões sem cor.
Deixaste o teu rasto e energia. Eras incansável. Onde estás?

Tic-Tac.
Tic-Tac.
Tic-Tac.

É este o som que dizias ouvir sem fim dentro de ti. E que a cada passo que davas querias pará-lo.
Dizias estar farta, que passava muito rápido...

Estás a tremer de euforia porque parou. "Parou" - dizes-me.
Deixaste de ouvir e agora está tudo mais calmo e saboroso. Fico feliz por ti. Estavas demasiado perturbada.

Tic- Tac.
Tic-Tac.
Tic-Tac.

Ecoam em ti os ponteiros da vida.

Na brevidade de mais um momento, tocas na garganta e sentes o teu coração bater mais rápido que o ponteiro dos segundos e nesse segundo, nesse mesmo segundo parou... quando então, muito baixinho, sussurraste ao meu ouvido:

-"ouvi dizer que a morte está escondida nos relógios". - Chiiiiu!!!

23 Dezembro 2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Com toda a verdade tenho andado arredio e não tenho feito qualquer visita. É que, no tic-tac da vida que nos faz viver, casam-se várias ilusões presas ao ritmo desabrido e supersónico do tempo que não nos deixa respirar livremente e nos asfixia, conduzindo-nos ao silêncio e desgastando nossas energias. Vivemos presos a sonhos que nos conduzem na vida e é nesses sonhos que buscamos a felicidade. Por isso, somos eternos sonhadores!
Um Novo Ano cheio de lindos sonhos e felicidades!

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