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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Então isto é tudo?

Excelente "história" do escritor Carlos Geadas. Este escreve de acordo com tudo o que sente, e que todos nós de vez enquanto sentimos ou poderemos, quem sabe, sentir. Daí a magia. Escreve o que pensamos e que nos invade e, falo por mim, não sabemos exprimir. Comovem-me as suas palavras. Sinto a cada segundo a invasão de perspectivas aparentemente "banais" mas extraordinariamente verdadeiras. Ler o que escreve é intenso, é envolvente e muito cativante.

Assim, deixo uma das muitas histórias que estão no seu site. Histórias que nos divertem, que nos entusiasmam por tamanha criatividade. Fazem-nos reflectir. Fazem sentido. Em todas elas há a plena sensação de identidade. Aqui ou ali. (estarão vocês a pensar "mas isso acontece-me tantas vezes, grande novidade!"). Leiam. Tenho a certeza que irão compreender...

... Começa assim


Então isto é tudo? É. Perguntas-me se isto é tudo. Respondo que é, que isto é tudo. Do lado de lá do vidro, mais um avião dispara pela pista. Visto daqui parece pequeno. Visto daqui parece insignificante. Visto daqui parece um pequeno brinquedo com luzes intermitentes nas pontas da asas, ganhando velocidade num corredor de luzes vermelhas e brancas, correndo, correndo. Correndo nos solavancos e barulho da pista e motores até que finalmente ascenda ao céu. Vemo-lo afastar-se, recolher o trem de aterragem, flectir sobre a asa esquerda e afastar-se num rumo electrónico que alguém, algures, traça na obscuridade de uma sala insuflada por luzes frias de monitores. E então isto é tudo. Isto é tudo. Ouço ainda enquanto te escorre uma lágrima fria na cara lavada pela luz do amanhecer que nos acontece diante dos olhos. É tudo. É tudo. Sem outras palavras senão as que continuo a ouvir dentro de mim, pouso-te sobre a coxa o meu lenço, fechado na minha mão. Depois a tua mão sobre a minha, empurrando o lenço. Sinto-me ridículo por ainda usar lenço nesta época tão descartável, tão reciclável, tão impessoalmente higiénica. A tua mão sobre a minha recusando o lenço. Recusando-me. Afastando-me quase suavemente para um recanto qualquer que caia fora do teu mundo, da tua solidão, de ti. E eu a guardar o lenço, eu a ouvir ainda as tuas palavras deitadas na minha resposta. E isto é tudo. Isto é tudo. Amanhece. O dia ergue-se indiferente aos aviões que o rasgam, indiferente a nós, que o vemos desta sala fria de aeroporto, indiferente a tudo.
O que te vai matando por dentro é isso. É essa procura de um sentido que não existe. É esperares todos os dias que algo aconteça e te diga a vida é mais que isto. Mas só encontras a desilusão. Esbarras diariamente na repetição cíclica de uma vida que não se supera, que não mostra uma razão de ser, que não satisfaz os sonhos que foram esmorecendo. É isso que me dizes quando olhas para mim sem realmente me veres. Quando dizes que conseguiste sempre tudo sem conseguir a única coisa que realmente desejavas. Não dizes essa última palavra. Não a dizes. Olhas para mim, dizes o que dizes mas faltam-te as forças para completar a frase que, depois de um silêncio que poderia ter sido longo, longo, terrivelmente longo, eu completo. Felicidade. E dizê-lo é não sentir o chão debaixo dos pés. Dizê-lo é pronunciar uma condenação. Conseguiste tudo menos ser feliz. Os teus olhos muito abertos, fixos numa abstracção qualquer. Fixos em nada. Para lá de nós, os aviões a correrem a pista numa ordem que se entende, numa sinalética plena de sentido. Aviões que descolam e recolhem os trens de aterragem numa ordem metódica, meticulosa. A asa a flectir. As luzes que piscam até que se apaguem na distância do sonho, da irrealidade, da desilusão de algo que não vai acontecer. Por trás, o sol. Pleno. Incandescente. Avassalador na lentidão com que se ergue sanguíneo da terra, das nuvens, da névoa baixa que ainda ronda entre os aparatos do mundo dos homens. E é glorioso ver o nascer o dia. É glorioso assistir ao milagre que para nada serve, que nada traz, que nada leva.
Para onde ias? Para onde tencionavas ir? Encolhes os ombros absorta numa distância tão longínqua como o som das minhas perguntas. Passas-me o bilhete. É um bilhete para lado nenhum. Um bilhete para qualquer sítio. Um bilhete para nada. É um bilhete desesperado, desiludido, cansado das certezas que nunca são suficientes. Não sabes. Encolhes os ombros. Os homens morrem e não são felizes. Digo-te que os homens morrem e não são felizes. Esta frase não é minha. Só é minha a convicção com que a digo, a certeza. O senti-la como minha desde há tantos anos, desde sempre. Não propriamente desde sempre mas desde o sempre que ficou quando chegaram as desilusões, quando entendi que a vida tem o tamanho da desilusão, que os sonhos nascem imensos para depois serem diariamente negociados, amputados, diminuídos na sua infinidade para se tornarem finalmente impossíveis, irrealizáveis, mesquinhos, mundanos. Até chegar ao momento em que não vale a pena sonhar pois sendo tudo possível, nada vale realmente a pena. Os homens morrem e não são felizes. Os homens morrem. E isto é tudo. É tudo. Isto. Os aviões descolam. Os aviões não sonham. Os aviões são as asas da frustração que fica depois do nosso desejo. E tudo isso te mata por dentro. E tudo isso te é inexplicável porque sabes que não salvarás o mundo, não salvarás ninguém, no final, nem sequer a ti te salvarás. É o diminuir do sonho até ficar apenas a desilusão. A desilusão de cada dia sem saídas, sem escapatórias. Tu a viver em ti e nisso nada encontrar que valha a pena viver. Mais um dia a desejar que algo aconteça. Eu entendo-te. Não te sei dizer o quanto te entendo. Eu sou como tu. Ou tu és como eu.
Quando te pergunto se podemos ir para casa, consentes. Como quem consente qualquer coisa. Poderia levar-te para qualquer sítio. Poderia até deixar-te aqui, eternamente a ver os aviões que partem para o lado de lá do teu sonho. Também eu poderia aqui ficar. Poderia acreditar que o tempo pararia e seria eternamente agora e que só existira o sol que se levanta como uma necessidade e os aviões que partem. Mas dou-te o braço e arrancamos. Regressamos a casa. Regressamos a tudo o que já conhecemos e que não nos faz felizes. Regressamos às certezas que não chegam para a vida que merecemos, que não sabemos dizer, que não sabemos concretizar. Isto é tudo. E isto é tudo. Seguimos como duas crianças perdidas num mundo vazio. Seguimos como órfãos rumo à manhã que brilha lá fora. Amparados no nosso descontentamento, duas solidões que se seguram quando tudo se torna insuportável para ser calado por apenas uma. Apenas isso. Seguimos. Seguimos apenas. Seguimos para onde todos os outros seguem. E então isto é tudo? É, isto é tudo.

Cit. in www.carlosgeadas.com

14 Setembro 2005

Sabes... as minhas mãos têm manchas de amoras, acabadinhas de colher no campo, onde outrora via a água correr entre leiras e com um "sacho" desviava-a, irrigando-a. Sabes...colher amoras relaxa-me, devolve-me à infância. Atrevi-me e arranquei legumes do terreno vizinho, quis sentir o cheiro e sabor autêntico...tudo se alterou...hoje as amoras estão pequeninas e há cada vez menos.
Entardeceu. Os meus pés sujos, o cabelo despenteado iluminado pelo sol, no campo, e tantas memórias de uma infância feliz... Agora no corpo de uma mulher, sentindo o coração pulsar com menos força. Olhos entristecidos ao ver o abandono, a terra sem vida e uma casa isolada mas tão bonita. Imaginário em tons de verde. Animais correm livremente.

Chego a casa e escrevo-te.
Obrigado por existires

12 Setembro 2005

Agonia

Agonia por não dizeres o que pensas?
Então age. Diz. Opina. Mesmo que o que aconteça fuja ao teu controlo e previsão, mesmo que seja inesperado, reage. O comodismo cheira mal e é feito de hipocrisia e paragem.
Preciso que me digas o que te faz falta, o que te incomoda. Porque tudo tem solução, os caminhos estão em ti, "Qualquer direcção, sentido ou fim. Pertence-te. És tu!".
A generosidade transforma-se numa compaixão de ti mesmo.
Pára de te lamentar. Basta.
A irritação não permite evoluir. Fala face a face, expõe os teus pontos de vista e não tenhas receio de nada

09 Setembro 2005

"Cisão da mente"... A esquizofrenia

Sempre me interessei por saber mais sobre esta doença. Sobre a qual quase todos nós temos ideias erradas. Por isso deixo-vos a questão: Esquizofrenia: uma doença ou alguns modos de se ser humano?

Já agora, deixo também algumas noções fundamentais para uma melhor compreensão do que é realmente a esquizofrenia:

A esquizofrenia tem, desde sempre, sido considerada por excelência, a doença sinónimo de loucura incurável. É uma situação que leva o doente a confundir a fantasia com a realidade e coloca em crise as suas relações consigo próprio e com o mundo. A esquizofrenia atinge pessoas jovens e, em muitos casos, tem uma longa duração, com encargos muito pesados tanto para a família como para a sociedade. Ainda hoje, frequentemente, nem os médicos nem os familiares estão preparados para enfrentar a esquizofrenia e não se arriscam a falar dela livremente e de uma forma objectiva. Esta dificuldade é um dos problemas que mais afligem a família do esquizofrénico e que, associado a um elevado envolvimento emocional, cria frequentemente verdadeiros bloqueios ao apoio psicológico que deveria ser proporcionado ao doente. Assim, as perturbações nas relações que se criam no seio do núcleo familiar acabam por se tornar mais um factor de vulnerabilidade para o doente, que já de si é biologicamente hipersensível a qualquer tipo de stress. Actualmente, todos os especialistas são consensuais em considerar que a estratégia de ataque na abordagem a esta doença deve partir de uma intervenção organizada segundo um programa que não é apenas de tipo farmacológico, mas de organização e assistência tanto ao doente como à família.

• O seu início é geralmente precoce, afectando jovens entre os 16 e 25 anos. Pode contudo aparecer mais tarde, mas o início antes dos 10 anos ou após os 50 é muito raro.

• Afecta jovens do sexo masculino e feminino com a mesma frequência, mas o seu início é geralmente mais precoce nos rapazes.

• A distribuição desta doença é mundial, tendo uma prevalência de cerca de 1%.

• Existem factores que agravam a expressão da doença como por exemplo o consumo de drogas ou o “stress”.

• Está ainda identificada a sua transmissão genética, isto é, hereditária.
Assim:

• A Esquizofrenia é uma doença do cérebro.

• É identificada por sintomas específicos e marcada por grave perturbação do pensamento.

• O tratamento é eficaz no controlo dos sintomas e impede o agravamento da doença.

• O diagnóstico precoce e tratamento podem melhorar muito o prognóstico desta incapacitante doença, promovendo a integração social.

• Com tratamento específico e suporte muitos doentes com Esquizofrenia podem aprender a lidar com os sintomas da doença e terem uma vida relativamente confortável e produtiva.

02 Setembro 2005

Como se manifesta a esquizofrenia

A divisão dos sintomas psicóticos em positivos e negativos tem por finalidade dizer de maneira objectiva o estado do paciente. Tendo como ponto de referência a normalidade, os sintomas positivos são aqueles que não deveriam estar presentes como as alucinações, e os negativos aqueles que deveriam estar presentes mas estão ausentes, como o estado de ânimo, a capacidade de planeamento e execução, por exemplo. Portanto sintomas positivos não são bons sinais, nem os sintomas negativos são piores que os positivos.

Positivos

Alucinações - as mais comuns nos esquizofrénicos são as auditivas. O paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, que ordenam actos que os pacientes reprovam, ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio paciente. Pode ser sempre a mesma voz, podem ser de várias pessoas podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas, podem ser murmúrios e incompreensíveis, ou claras e compreensíveis. Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os pacientes também se afligem com o conteúdo do que ouvem, ainda mais por não conseguirem fugir das vozes.
Alucinações visuais são raras na esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o diagnóstico, favorecendo perturbações orgânicas do cérebro.

Delírios – Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são os persecutórios. São as ideias falsas que os pacientes têm de que estão a ser perseguidos, que querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros como achar que está a ser controlado por extraterrestres que enviam ondas de rádio para o seu cérebro. O delírio de identidade (achar que é outra pessoa) é a marca típica do doente mental que se considera Napoleão. No Brasil o mais comum é considerar-se Deus ou Jesus Cristo.

Perturbações do Pensamento – Estes sintomas são difíceis para o leigo identificar: mesmos os médicos não psiquiatras não conseguem percebê-los, não porque sejam discretos, mas porque a confusão é tamanha que nem se consegue denominar o que se vê. Há vários tipos de perturbações do pensamento, o diagnóstico tem que ser preciso porque a conduta é distinta entre o esquizofrénico que apresenta esse sintoma e um paciente com confusão mental, que pode ser uma emergência neurológica.

Alteração da sensação do eu – Assim como os delírios, esses sintomas são diferentes de qualquer coisa que possamos experimentar, excepto em estados mentais patológicos. Os pacientes com essas alterações dizem que não são elas mesmas, que uma outra entidade apoderou-se de seu corpo e que já não é ela mesma, ou simplesmente que não existe, que seu corpo não existe.

Negativos
Falta de motivação e apatia - Esse estado é muito comum, praticamente uma unanimidade nos pacientes depois que as crises com sintomas positivos cessaram. O paciente não tem vontade de fazer nada, fica deitado ou vendo TV o tempo todo, frequentemente a única coisa que faz é fumar, comer e dormir. Descuida-se da higiene e aparência pessoal. Os pacientes apáticos não se interessam por nada, nem pelo que costumavam gostar.

Embotamento afectivo – As emoções não são sentidas como antes. Normalmente uma pessoa se alegra ou se entristece com coisas boas ou ruins respectivamente. Esses pacientes são incapazes de sentir como antes. Podem até perceber isso racionalmente e relatar aos outros, mas de forma alguma podem mudar essa situação. A indiferença dos pacientes pode gerar raiva pela apatia consequente, mas os pacientes não têm culpa disso e muitas vezes são incompreendidos.

Isolamento social – O isolamento é praticamente uma consequência dos sintomas acima. Uma pessoa que não consegue sentir nem se interessar por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue diferenciar bem o mundo real do irreal não consegue viver normalmente na sociedade.

Os sintomas negativos não devem ser confundidos com depressão. A depressão é tratável e costuma responder às medicações, já os sintomas negativos da esquizofrenia não melhoram com nenhum tipo de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos de actuarem sobre os sintomas negativos não se concretizou, contudo esses sintomas podem melhorar espontaneamente.

02 Setembro 2005

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