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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Sentido

«Quando entramos em sintonia com a vida, ela mostra-nos o seu lado mais precioso. Passamos a interagir com tudo o que nos rodeia, a intuir, a amar, a sentir raiva, a sofrer, a sorrir, chorar… Conscientemente… O passado volta ao nosso presente quando menos esperamos por ele. Deixa-nos confusos e presos a sentimentos que nunca se chegaram a realizar. Leva-nos para caminhos que não chegamos a percorrer. Mas o passado volta sempre com algum propósito. E da maneira como chega, inesperadamente, sem ser convidado… Senta-se num banco de jardim e olha o horizonte com um pensamento triste, mas sábio… Assim como um velho da vida, que chegando ao limiar da sua existência apenas espera, sentado, que a vida se mostre na sua outra dimensão. Ele sabe que já nada mais lhe resta senão esperar… Chama-se solidão ao sentimento de nostalgia que nos afasta de todos, mas que nos leva ao centro do nosso ser. A consciência manifesta-se através de um olhar mais atento, de um sorriso melancólico, que nada tenta expressar, que nada tem para dar ou receber. Quando a vida chega ao seu ponto final, a nossa energia torna-se mais forte, embora pareça mais fraca aos olhos dos outros. Todos se afastam, pois todos querem continuar adormecidos e deixar a vida passar, viver de acordo com a moda do momento, alimentando as expectativas do corpo, mas não da alma. O ser humano está-se cada vez mais a desviar do centro, ao invés, anda da esquerda para a direita, sem se aperceber que é no meio, é no nada, que a vida se revela em toda a sua plenitude. A fonte que jorra água de prata, que lava sentimentos e nos dá o poder de amar, está no centro, está dentro de nós. Assim como os velhos da vida, eu me sento com o passado. Olho o horizonte com o mesmo ar perdido, com a mesma angustia de uma vida que se está a ir. Não tenho coragem de me levantar, de me despedir do meu velho companheiro de vida. E assim continuo, sem forças para fazer algo que seja, sem conseguir agarrar o presente e caminhar pelos trilhos da vida.»

Naire

Escrito verdadeiro e transparente de como muitos de nós sentem a vida passar "pois todos querem continuar adormecidos e deixar a vida passar, viver de acordo com a moda do momento, alimentando as expectativas do corpo, mas não da alma."Vamos contrariar esse pensamento ou atitude? Vamos ter força para acreditar, em nós e nos outros? Vamos aproveitar cada instante, por mais simples que possa parecer? Porque é nestes gestos simples que está a felicidade!


26 Outubro 2005

E lá começa o ritual... O tilintar das canetas, as conversas ensurdecedoras, os professores com as suas longas palestras, uma correria infindável pela
«E lá começa o ritual... O tilintar das canetas, as conversas ensurdecedoras, os professores com as suas longas palestras, uma correria infindável pelas escadas, a papelada sucessível, um olhar perdido num anfiteatro que espera o aconchego dos alunos. Onde nos encontramos todos e cada um nos vários momentos da vida. Apenas uma questão de Horas? Apenas uma questão de espaço e tempo? Intemporalidade espacial como lhe queiram chamar. Será aquilo que o mundo nos reserva? Será mesmo que o tempo é aquilo que dele fazemos ou mais aquilo que ele fará de nós? Os se's e os serás que nos alimentam o viver dos dias, ora como esperança de um futuro vindouro ora como auto mutilação de um presente que mais nos parece ausente. O caos do mundo submerso no meio do simplismo que é a vida. A nossa capacidade para traçar os rumos que nos destinamos a seguir, e a apanharmos com as consequências das nossas escolhas. O labirinto que umas vezes deixa portas, e outras vezes cria paredes sem elas. Uma perfeita harmonia cósmica inserida num marasmo completo. Afinal será mesmo um país cinzento? Ou uma artificialidade de cores?»

Resposta:

Questões pertinentes! Respostas difíceis e ditas consoante o estado de alma de cada um. Ao ler o que escreves posso dizer que tudo o que questionas se interliga, não existindo uma resposta correcta. Existe sim, causa consequência, consequência causa, um intrincado de ligações que revelam a complexidade da nossa existência. Penso que é importante reflectirmos. O maravilhoso da nossa existência é isso mesmo, a imprevisibilidade e a instabilidade do nosso comportamento!

18 Outubro 2005

Na primeira pessoa

Cheia de coragem e vontade disse-me que queria deixar de viver.
Deixar de viver a vida dos outros, as suas conquistas e felicidades.
Queria viver e largar o cómodo sofá, em troca de passeios ao ar livre, de mão dada à sua filha pequena...
Vi que adora o contacto com a terra, que cuida do seu jardim como de um velhinho se tratasse, acarinha-o, trata bem dele.
"Isto porque o cheiro da terra dá-me energia e sinto-me bem", disse.
Trocou os dias vividos sentados no sofá. Deixou simplesmente de assistir, impávida e serena, à felicidade dos outros. Confundia a realidade e a fantasia, onde a personagem (que era ela), ficava sempre esquecida no meio de tanta história. Uma vida esquecida, sentada no sofá, esperando não sabendo bem o quê.
Trocou esse mundo idealizado e perfeito, perverso e ilusório, pelo desejo de finalmente ser...

Ainda me disse que adorava ler e que não lia porque não tinha dinheiro para comprar livros.
Disse-me que estava farta de viver a vida dos outros e que agora, finalmente agora, queria viver a vida na primeira pessoa.

11 Novembro 2005

Bates sem compasso, incerto e arrítmico. Podias falar comigo, acalmar-me mas não tens voz, vives apenas dentro de mim. É a ti que culpam por amares sem medida e fim, é a ti que pintam cor-de-rosa ou vermelho sangue. Bates fortemente. Apertas o meu peito a cada segundo de novas emoções, ansioso porque este momento é novo, inesperado e não sabes como lidar. Bates. Acelerado. Fortemente, a um ritmo alucinante e preocupante. Não vives só. Eu acompanho-te. Acredita. Precisas de me ver sorrir. Rejuvenesces e bates cada vez mais forte. O meu entusiasmo é a tua vida. Empolgado corres desorientado, és vida interior. Estimo-te. Por vezes desprezo-te, maltrato-te e ficas encolhido a um cantinho, assustado bates fortemente. Preciso de ti. Preciso de te sentir vivo, apaixonado, cheio de força e vigor. Desculpa se te invado de tristezas e más companhias. Perdoa-me se não te respeito e te faço sentir fraco, expelir os maus-tratos. É inconsequência, eu sei. Mas guardo-te junto a mim, bem dentro de mim, onde quer que vá. Bates forte. Sinto-te. És vida em mim...

11 Outubro 2005

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Rosto


Traços físicos agarram-me o pensamento e terminam na imaginação de como poderás ser amanhã. Identifico-te mas não sei definir-te aqui e agora. A textura, cor e tonalidades pertencem-te. Nasces puro, macio, com cheiro único. Simplesmente luminoso. Transformaste. O tempo é a tua erosão. Expressas-me. Identificas-me. E a cada ruga tua é sinal que sorri e chorei. Muito mais que um corpo, muito mais... Pouso-te nas duas mãos e sinto-te, aperto-te, toco-te. Como serás amanhã? O eterno espelho de mim? Em ti, olhos transparentes revelam o espírito invasor, estados de alma reflectidos em ti, pelas lágrimas que brotas ou sorriso que expressas. Um simples olhar diz como te sentes. O teu rosto está inclinado em perfeita harmonia. É ele que me diz que estavas bem, que estavas feliz. O teu rosto... Nele recai a atenção do desconhecido, és mais um rosto para descobrir ou identificar. Desvias o olhar porque não o queres ver, podes sempre fugir ou esconder. Sombras que te perseguem. A cada ruga um novo sentir. Em cada rosto uma nova alma.

Publiquei este texto no site

http://www.escritacriativa.com/modules/news/article.php?storyid=639


10 Outubro 2005

Antes do amanhecer tens um sonho que te leva para um lugar exótico e longínquo, onde passeias perto do mar e sentes o calor do fim de dia a embater-te no corpo, por inteiro. Sentes um leve arrepio, um misto de calor e frio, e o cheiro a maresia completa este cenário. Respiras bem fundo, como quando eras criança. Enches os pulmões. Expiras num só fôlego. Sentes-te. Sentas-te. Contemplas o horizonte. O pôr-do-sol. O fim de dia. O instante mais tranquilo, o fim de dia… Onde os tons se conjugam harmoniosos. Um beijo na tua face.
Os lençóis lavados, perfumados e brancos. Acordas com o cheirinho a pão que saíu agora do forno e em cima da mesa uma tigela com doce de figo.
Vou-te buscar retratos deste e daquele momento. Apontas e dizes “momentos felizes”. Enquanto me mostras, vejo uma criança sorrir para mim. Olha-me e ri. Olha-me nos olhos, conquistei a sua atenção. Olhar para mim fê-la sorrir. Elas que têm "os olhos nas pontas dos dedos"!, digo-te fragilizada.
O meu corpo é leve. Flutuo. Respiro bem, sem formigueiros. Aproveito este instante. Em breve não estarei aqui. Recordo contigo aqueles retratos, aqueles que reproduzem o momento perfeito, o momento em que as pessoas que amas estão a sorrir, bonitas, bem dispostas e alegres. Onde os seus olhares e feições expressam com exactidão o que as invade - a felicidade de estarmos aqui.



10 Outubro 2005

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