terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Um animal social" de Ricardo M.

Não tenho nada para dizer. Já foi tudo dito, não existe nada de novo que eu possa contar. Eu respiro, vivo e amo a vida, odiando-a todos os dias pela sua curteza e por me sacudir como um trapo. Retiro um prazer estranho da decadência. É algo atraente para mim, não sei explicar. Adoro vicios. Alcool, tabaco, droga, sexo e amor. Adoro-os a todos e não pareço tê-los que chegue. Alguns sei que terei que abandonar eventualmente, e aceito isso facilmente. Outros jamais. Acho a amizade a coisa mais bonita que pode existir. Acho que o amor se não for arrebatador e angustiante não é verdadeiro e mais vale não existir sequer. Chamemos-lhe outra coisa qualquer, porque amor não é. Angustia-me saber que vou morrer e ser esquecido. Odeio o sentir-me sozinho e pensar que não vai mudar. O medo de me tornar apenas mais uma ovelha do rebanho. Chateia-me quando me usam e depois colocam num canto. Irrito-me quando não me entendem nem fazem um esforço para isso. Quando me catalogam, definem, comparam, atiram para o ar frases parvas sem pensar nelas por um segundo. Odeio quando pregam coisas em que não acreditam. Quando me querem vender frases feitas, pérolas de sabedoria, clichés e palmadinhas no ombro. Adoro conhecer pessoas, individuos, um de cada vez, ter tempo para aprofundar as coisas e ver se dá certo ou não. Quando não dá meto de parte sem pensar mais nisso e todos ficam chocados. Torno-me logo o anti-social por excelência. Irónico o facto de ter mais amigos do que qualquer outra pessoa que conheço. Odeio multidões, grupos que partilham cérebros, casais que olham um para o outro antes de responder. Pessoas sem espinha, sem carácter, sem sal, que falam de todos os assuntos e têm vergonha de admitir que desconhecem algo. Falam de carros, livros, futebol, cinema, politica, história, música. Pequenos doutores e génios que repetem o que ouviram os pais dizer à mesa ou professor despejar na sala de aula. Todos são críticos, todos faziam melhor. Toda a gente tem uma opinião sobre seja o que for.
publicada por Ricardo M. às 2:58 a 4/Mai/2007

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