quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

how does it feel in my arms?

foto: m(n)m
in olhares.com

-Carlos-
Mundos estranhos. Em tudo existe pequenas dificuldades. Aleatoriamente sucedem-se. Sem que as esperemos.
O branco vive em negrume
Nenúfares com salpicos de água
Um sábado tardio, porque precisava de sonhar.
Sonhar…
Arrumar acontecimentos não-vividos ou ainda por viver, ou talvez não.
Atribuir-te responsabilidade pela minha tristeza é tão mais fácil.
Falo alto para que me oiças. Atribuo um nome ao que não tem nome. Categorizo o que desconheço, o que não vale a pena, então. Espera! Estão ali pessoas a vender açafrão das índias. Jantam connosco? Acompanhas-me?
Vozes de crianças. Discorrem-lhes lágrimas dos rostos.

- Beatriz -
Entre papéis, palavras, raciocínios relacionais e conclusões-luz, que tal, para desanuviar, uma gravação inspirada, música que toca, para o meu amigo Alexandre? Music is food for soul… Apetecia-me agora encher-te de beijos – dizes. Mais uma vez, dizes. Acabaram-se os cigarros. Transformo as garras em roxo escuro. Danço como o demónio. Porque tudo nos influencia. Tenho fobia do desconhecido um medo irracional apodera-se dos meus músculos… e barulhos acústicos apaziguam a alma, aproximam-se borboletas.

Isso implica que tenha de me vestir? E não me apetece.
Comovem-me poucas coisas.


- Carlos & Beatriz –
Lês um artigo de um psiquiatra, que admiras, e começas a falar alto (fazes sempre isso), sem saber se te quero ouvir, interrompes-me - mesmo que eu não queira – maldita habituação, que vem de mansinho e que se instala – parasita - adoece-nos aos poucos, anestesia comoções e aniquila-o-que-nos-uniu.

Oiço-te vociferar com entusiasmo: “somos um primata imaturo, o mais desprotegido da natureza. só não desaparecemos porque colaboramos uns com os outros. no dia em que a sociedade de consumo nos converter em indivíduos robô, corremos o risco de perder esta corrida.
deixamo-nos hipnotizar pelo poder dos media e transportamos essas referências para a nossa realidade. e se há uns tempos as pessoas partilhavam a atenção em torno dos grupos e das famílias, hoje concentram-se nas tecnologias individuais – têm o seu próprio televisor, computador, telemóvel, blogue – e perdem a dimensão dos outros.
aparecem-me pessoas com crises de identidade e concepções ilusórias da vida. a evolução dos papéis sociais tem conduzido ao desencontro entre homens e mulheres.”

Olhas para mim e eu continuo distante. Gostei tanto do que escolheste para mim – fazes sempre isso – mas não consigo dar-te brilho depois de tanto silêncio planeado.

Apesar de tudo, continuas a ter tantos encantos particulares neste pálido viver.

Eu, na minha secretária, entretido com a Internet - primata imaturo e manipulado - pode ser que hoje consiga marcar um encontro com a mulher que não lê alto, e me peça “dança comigo esta noite?”,
que me entenda sem me criticar, que saiba latim e durma até tarde
quem sabe, viajar e ter aventuras?
pode ser que me traga – sem eu esperar – um bacalhau com natas, do meu restaurante favorito, quando tudo o que menos me apetece é ouvi-la rabujar porque ainda não fiz o jantar,


quem sabe,
uma mulher, que com o passar dos anos, ficará como tu?

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