Antevera saborear a acidez de todos os corpos de mulheres antes de morrer.
Palato genial e decifrador exímio.
Saboreara, sem se distrair um único segundo, todas as texturas e delícias carnais, sem se perder com a frieza das jóias envoltas em pescoços sedentos de morder. Fora exemplar. Nunca o odor das ruas estreitas e dos moribundos o confundira. Saboreou sempre de forma única, o que nunca nenhum soube saborear. Atraí-a as presas com o seu porte vigoroso, cortesia nos gestos, rijeza dele. Borboletear da sua língua. Seduzia-as num ápice. Num piscar de olhos.
A maioria procura um homem confiante, imprevisível, atencioso.
Menos ela.
Nem um trocar de olhos. Antes procura, nos acontecimentos históricos, o fundamento de tanta depravação! Será o difícil o mais prazeroso, quando alcançado? E, assim, nunca entregou a sua silhueta - demasiado atraente – a nenhum saboreador de acidezes. Era ela a acidez. Pois a doçura fácil não a agradava. Por isso, passava o seu tempo ausente de superficialidades e contrariava qualquer sensação corporal além do que permitira fazer-se sentir. Era uma solitária, remexia os baús em que tinha deixado a alma, esperançada de um fim feliz e não encontrava nada, a não ser o caderno de capa vermelha em que guardara a colecção de flores secas.
Volta a si, opta por ir caminhar, a noite é protectora. E hoje tanto frio. Assim que começa a cair, a noite transforma os objectos, manto cego que se apodera das estrelas e faz amizade com a lua, com os morcegos e sangue, para pousar em todos os corpos como um desejo indomável. Tem os lábios carnudos. Tão carnudos de perfeitos, que se pudesse beijá-los nunca mais os desprenderia. Come frutos vermelhos e não se vê distinção entre ambos. Beijara uma vez. E bastou para saber a que sabiam os lábios. Esquiva como um gato independente. Indómita mulher. Sabia (e gostava) de estar consigo. Aniquilara qualquer compromisso com o desconhecido. Todo e qualquer desejo avassalador estavam sob controlo...
Nas ruas estreitas, de cheiros nauseabundos, o provocador de corpos devorava cada grito arrepiante, numa roda-viva de conquistas - insatisfeito-nato - buscava o mais mortífero veneno, sorvia-o como um ávido predador, brotando da sua pele as secreções das mulheres, dos movimentos lentos, de todas as valsas eróticas. Pérfidos manjares... Na época de chuvas que limpavam as ruas inundadas de podridão.
E que importavam as outras, se era a ela que sorria?
Cortejara-a a um ritmo perfeito, de lento. E nem uma palavra. Nem um olhar. O que antes lhe dava prazer desaparecera na previsibilidade de qualquer corpo. Repetia, incessantemente, o que sentiu outrora. Que mais procurava? A que mundo ansiava chegar?
Por vezes, sentia-se vivo.
E a mulher solitária, continuava à chuva. Passos envergonhados perto do bordel, bastava-lhe isso para que pudesse sentir prazer. Um prazer estranho… Pecava entre si e consigo, não partilhava com ninguém. Tapava o cabelo com um lenço, o rosto baixo em direcção ao chão, escutava escondida e fugia de imediato. Bastava-lhe passar por ali.
Gostavam, ambos, de saborear. “sem peso da solidão reflectida no outro…”
Ambos procuravam a acidez dos arrepios alheios. Sem nunca se cruzarem. Sem sequer preverem que um acaso os iria apresentar.
Apresentou. E acabou,
“Porque os amores felizes se vão tornando ácidos”.
A maioria procura um homem confiante, imprevisível, atencioso.
Menos ela.
Nem um trocar de olhos. Antes procura, nos acontecimentos históricos, o fundamento de tanta depravação! Será o difícil o mais prazeroso, quando alcançado? E, assim, nunca entregou a sua silhueta - demasiado atraente – a nenhum saboreador de acidezes. Era ela a acidez. Pois a doçura fácil não a agradava. Por isso, passava o seu tempo ausente de superficialidades e contrariava qualquer sensação corporal além do que permitira fazer-se sentir. Era uma solitária, remexia os baús em que tinha deixado a alma, esperançada de um fim feliz e não encontrava nada, a não ser o caderno de capa vermelha em que guardara a colecção de flores secas.
Volta a si, opta por ir caminhar, a noite é protectora. E hoje tanto frio. Assim que começa a cair, a noite transforma os objectos, manto cego que se apodera das estrelas e faz amizade com a lua, com os morcegos e sangue, para pousar em todos os corpos como um desejo indomável. Tem os lábios carnudos. Tão carnudos de perfeitos, que se pudesse beijá-los nunca mais os desprenderia. Come frutos vermelhos e não se vê distinção entre ambos. Beijara uma vez. E bastou para saber a que sabiam os lábios. Esquiva como um gato independente. Indómita mulher. Sabia (e gostava) de estar consigo. Aniquilara qualquer compromisso com o desconhecido. Todo e qualquer desejo avassalador estavam sob controlo...
Nas ruas estreitas, de cheiros nauseabundos, o provocador de corpos devorava cada grito arrepiante, numa roda-viva de conquistas - insatisfeito-nato - buscava o mais mortífero veneno, sorvia-o como um ávido predador, brotando da sua pele as secreções das mulheres, dos movimentos lentos, de todas as valsas eróticas. Pérfidos manjares... Na época de chuvas que limpavam as ruas inundadas de podridão.
E que importavam as outras, se era a ela que sorria?
Cortejara-a a um ritmo perfeito, de lento. E nem uma palavra. Nem um olhar. O que antes lhe dava prazer desaparecera na previsibilidade de qualquer corpo. Repetia, incessantemente, o que sentiu outrora. Que mais procurava? A que mundo ansiava chegar?
Por vezes, sentia-se vivo.
E a mulher solitária, continuava à chuva. Passos envergonhados perto do bordel, bastava-lhe isso para que pudesse sentir prazer. Um prazer estranho… Pecava entre si e consigo, não partilhava com ninguém. Tapava o cabelo com um lenço, o rosto baixo em direcção ao chão, escutava escondida e fugia de imediato. Bastava-lhe passar por ali.
Gostavam, ambos, de saborear. “sem peso da solidão reflectida no outro…”
Ambos procuravam a acidez dos arrepios alheios. Sem nunca se cruzarem. Sem sequer preverem que um acaso os iria apresentar.
Apresentou. E acabou,
“Porque os amores felizes se vão tornando ácidos”.
andrea
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