De Almada Negreiros, "A Flor":
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção , outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!Moral da estória: A flor desenha-se diferente no íntimo de cada um de nós, mais bela, mais frágil, mais graciosa, mais perfumada...
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Woody Allen (?)
A minha próxima vida, tenciono vivê-la de trás para a frente. Começar morto para resolver rápidamente esse assunto. Depois acordar num lar para idosos e ir rejuvenescendo na medida dos dias que passam. Ser convidado a saír, por ser demasiado saudável para o frequentar. Transitar, alegremente, dos proventos da aposentadoria para o mercado de trabalho, recebendo, meritoriamente, um magnífico relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável até ao estádio universitário. Embebedar-me diariamente, ser bastante promíscuo, e caminhar até ao secundário, primário, todos estes percursos sem pressas, e por aí, até ser criança e brincar, só brincar, sem pensar na chatice da responsabilidade. Então, eis-me chegado quase ao dia do nascimento. Sou um bebé inocente, lindo e doce até ao primeiro vagido.Finalmente passo, mais ou menos, 9 meses a flutuar na piscina aquecida de um "spa" de luxo, todos os serviços incluidos e a possibilidade de aumentar o espaço residencial a meu belo prazer. Tudo isto sem pagar um tostão! Depois - Voilà! - desapareço num orgasmo.