quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Ano velho


Bom!
Há quem diga: "por que raio" desejamos bom ano a quem não conhecemos de lado algum?". Há quem diga que é uma azeiteirice mas a verdade é que até a personagem mais contida, reservada ou antipática, espalha aqui e ali, palavras e olhares de esperança e mundo novo, dizendo em voz tímida à senhora da loja de decoração "um bom ano para si".
Haverá neste comportamento o desejo de exteriorizar que está tudo tão mal que temos que espalhar a alegria que não sentimos ("a ver se isto melhora")? Desejar aos outros aquilo que queremos para nós? Desejar para ouvirmos a retribuição ainda mais calorosa? Ou fica bem dizê-lo?
Ou então por simpatia? Alegria? Boa disposição? Esperança? Desejo de melhoria para nós, para os outros, para o País e para o Mundo? Todos cheios de bons sentimentos...
Basta sair de casa para apreciar que muitos deambulam de cabeça baixa, questionando as pedras da calçada "Como vai ser? Estou perdido!". Por si passam outros tantos. Uns de gabardina Massimo Dutti outros com um casaco oferecido pela vizinha do 4ªandar (que sabe que vivemos em miséria extrema)...
Esta consciência social, senhora! Todos dizem o mesmo e ninguém (incluindo eu) faz nada!
O nosso quintalinho e jardinzinho arranjado (para quem o tem), a dispensa semanalmente abastecida (para quem come), o carro estacionadinho, de preferência à porta de casa (para quem o tem), os filhos que gritam e que de dia para dia, de tão "domesticados" e ensinados "que isso é feio" deixam de gritar. É um silêncio agradável para os vizinhos e para em qualquer momento, estão sentados à mesa do café e alguém histérico lhes diz "Estás tão bem comportadinho Joãzinho Maria!". Os pais sorriem contentes ao comportamento (artificial) do seu filho prodígio. Já sabe estar sentado à mesa sem falar. Nunca fala. "Que bom, aprendeu a lição", pensam os pais. Esquecendo-se, como diria Eduardo Sá " as crianças têm os olhos nas pontas dos dedos". É Hoje em dia as crianças não se sujam, "é feio". Quanto mais uma crianças estiver suja mais simboliza que brincou, descobriu, conviveu e cresceu!
Mas é assim, a todo o instante uma nova percepção que se junta à realidade até então vivida. Novos significados, novas ideias. Mas ainda bem.
... É verdade, falávamos do ano novo.
Perguntam-me e eu digo "Novo ano, a vida na mesma". Mas é isso mesmo, para quê exteriorizar imensa felicidade se a única coisa que mudou foi um dia no calendário?
Eu sei. Eu sei que até vale a pena imaginarmos que está tudo magnífico e que tudo correrá como nos desejam (naquelas mensagens todas iguais umas às outras, cópia do outro que nos enviou, e que até tem umas palavras engraçadas e decidimos enviar à extensa lista de pessoas a quem durante o ano não dissemos patavina).
A verdade é que vem um novo ano e muitos problemas existem do ano que passou. Os quais ainda não resolvemos e adiamos, adiamos, à espera que se resolvam por si mesmo!!! À espera que se dissolvam como uma bola de sabão que em contacto com a atmosfera, instantaneamente desaparece! Que ilusão...
Suspiro longo!
No Natal abanei emoções e revi amigos, que infelizmente não via há muito tempo.
O pai chorou. A mãe também. As manas disseram "és sempre a mesma lamechas!". Mas o que importa é que aquelas palavras foram directamente aos seus corações. É isso que interessa. O resto será feito de encontros cálidos e saborosos no novo ano, numa casa acolhedora e quentinha, cheia de animais que todos adoram, menos eu :)
A eles, sentidamente, desejei com toda a minha força, um ano cheio de sorrisos, mudanças, conquistas e acima de tudo, o encontro consigo mesmos...
A propósito da família...
Dizes que não ligo a ninguém e que as pessoas já não me dizem nada porque eu não lhes "ligo" ou dou a devida atenção (o que é para ti devida atenção??). Ou se oiço, faço ouvidos de marcador e depois já não me lembro da nada... Sinto-me triste por achares que eu sou sim. Não é verdade...
Tenho esta postura perante a vida, aparentando distracção e azelhice, mas...
Desculpa se não estive contigo quando mais precisaste... Talvez no meio da minha vidinha sem nenhum problema me tenha esquecido que a tua não é assim...
Aparentas força e auto-controlo, mas eu sei (porque te vi nascer) que precisas tanto de mimos como eu... que precisas que te dêem tanta ou mais atenção do que aquela que tu sistematicamente dás a todos. O teu coração é alimentado pelo bem-estar dos outros, mas por vezes esqueces-te de ti...
Desculpa...Talvez já seja tarde, mas tinha que te dizer que estarei sempre aqui por ti. E eu oiço-te com muito mais preocupação e atenção do que julgas...
Quando penso em muitas pessoas, sinto que a minha vida é mesmo só facilidades. Que até irrita.
Soube no fim do ano passado que o marido de uma senhora a quem dei formação (e com a qual criei laços de bons sentimentos, permitidos pela passagem do tempo e conversas infindáveis) falecera...
Dentro de mim sentimentos dúbios. "Telefonar é tão impessoal nestas situações", "mas é melhor do que a indiferença ou silêncio", "ligas e dizes que ela pode contar contigo para tudo o que for preciso"... Porque muitas vezes achamos que as pessoas que estão em luto, podem ser "agressivas" e que "é melhor noutra altura" mas a verdade é que, nesta situação, não existe altura certa para ajudar alguém, toda a ajuda é preciosa (e quando digo ajuda, basta um simples sorriso ou uma palavra de consolo). Ainda não lhe telefonei.
No outro dia alguém disse que não gosta de nada com hora marcada. Eu concordo.
Sinto que me perdi em vários pensamentos através destas palavras mas o mais importante foi ter escrito algumas das coisas que ainda têm sabor a ano velho.
Um bom Ano para todos! :)



12 Janeiro 2006




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