sexta-feira, 4 de maio de 2007




Não tens nome.
Revejo-te naquela senhora, que passou por mim, de casaco de lã castanho envelhecido, roto e gasto-em-passagens-diárias-de-bicicleta. Hoje brinco contigo. Apetece-me.
Trazia um molho de couves bem frescas, ainda a salpicar o orvalho de uma madrugada bem gelada. Trazia-as num balde vermelho. No dia anterior lavou as vísceras da matança do porco nele. Ainda antes desse dia anterior, transportou ervas miudinhas e lenha seca de propósito para cozer o pão, que alimenta toda a aldeia. Trabalhadora e despachada como tu.
Não tens nome, sem nome.
Numa estrada qualquer, de uma rua que também não sabes definir, observas discretamente um homem, cabelo grisalho, poucos dentes e óculos pesados – chamas-lhe velho, observas que ele observa uma folha colada com cola rasca num pilar de uma rua de uma cidade, no centro de uma cidade qualquer, observa a necrologia, com a curiosidade mórbida de um velho orgulhoso de estar vivo ou com a intensa dor de quem prevê para breve o seu fim?
Não se obriga a nada este velho. Fez sempre tudo porque assim o desejou. Obstinado como tu.
Um nome para ti, pode ser Carolina?
Amor porque dá sentido a tudo, amar o próximo, a vida, o mar…
No cavalo de metal voas para o castelo. Um castelo frágil e provisório o meu. O encanto está em ti, unicamente em ti. Encantado mundo. Encantador.

Ama sem condições, espera menos dos outros, Carolina, será mais plena a tua vida.
Por hoje estou saciada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei das vísceras do porco... Vá-se lá saber porquê. Mas tu sabes que eu adoro essas coisas. Agora, a parte da "cola rasca"... Se o raio do velho estava a ler o papel, e se este estava afixado, porque é que a cola era rasca? Não estava a cumprir a sua função? Vê lá isso.

Bj.

A. Jorge Oliveira

Anônimo disse...

Outra coisa. Então a mulher alimentava toda a aldeia e estava na cidade? Sim, porque referes que ela encontrou e falou com o velho na cidade. ai ai ai ai... Foca-te nos textos como se estivesses a vivê-los. Não a inventá-los. Caramba.

Bj.

A. Jorge Oliveira

Anônimo disse...

Parece-me que estamos perante um problema agrícola. Senão vejamos, um molho de couves, a matança do porco, um porco com vísceras e pão num forno de lenha. Isto cheira-me a terceiro mundismo. Os desafios da modernidade são muito mais envolventes e ambiciosos...
Considero que o problema tem duas vertentes: a Política Agrícola Comum e o uso dos solos.
Quanto à primeira penso que fará parte de uma estratégia dos franceses para tramar os portugueses e o Sarkozy, hummmm, é o chefe dos guerrilheiros....
Quanto à segunda vertente, a má utilização dos solos tem gerado a proliferação das ervas daninhas que f....a agricultura.
Concluindo, todos nos f....
Para terminar parece que há por aí umas ervas daninhas que estão a dar cabo do amor tal como o conhecemos. Até o Esteves Cardoso escreveu que o amor é f.....
Pelo sim e pelo não, oh Carolina, vide um dia de cada vez porque o amanhã talvez não exista.

Anônimo disse...

Pfffff... É que nem resvalou no precipício da originalidade.

"Tell me Pablo, how do you make love with a cube?" (Modigliani)

Beijo loirinha.

A. Jorge Oliveira

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