Não tens nome.
Revejo-te naquela senhora, que passou por mim, de casaco de lã castanho envelhecido, roto e gasto-em-passagens-diárias-de-bicicleta. Hoje brinco contigo. Apetece-me.
Trazia um molho de couves bem frescas, ainda a salpicar o orvalho de uma madrugada bem gelada. Trazia-as num balde vermelho. No dia anterior lavou as vísceras da matança do porco nele. Ainda antes desse dia anterior, transportou ervas miudinhas e lenha seca de propósito para cozer o pão, que alimenta toda a aldeia. Trabalhadora e despachada como tu.
Não tens nome, sem nome.
Numa estrada qualquer, de uma rua que também não sabes definir, observas discretamente um homem, cabelo grisalho, poucos dentes e óculos pesados – chamas-lhe velho, observas que ele observa uma folha colada com cola rasca num pilar de uma rua de uma cidade, no centro de uma cidade qualquer, observa a necrologia, com a curiosidade mórbida de um velho orgulhoso de estar vivo ou com a intensa dor de quem prevê para breve o seu fim?
Não se obriga a nada este velho. Fez sempre tudo porque assim o desejou. Obstinado como tu.
Um nome para ti, pode ser Carolina?
Amor porque dá sentido a tudo, amar o próximo, a vida, o mar…
No cavalo de metal voas para o castelo. Um castelo frágil e provisório o meu. O encanto está em ti, unicamente em ti. Encantado mundo. Encantador.
Ama sem condições, espera menos dos outros, Carolina, será mais plena a tua vida.
Por hoje estou saciada.
sexta-feira, 4 de maio de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
- Eva Jasmim
- Imensamente feliz...
Visitantes:
(passa)do
- Abril de 2005 (11)
- Fevereiro de 2006 (9)
- Julho de 2005 (9)
- Agosto de 2005 (7)
- Maio de 2005 (7)
- Dezembro de 2005 (6)
- Junho de 2005 (6)
- Novembro de 2005 (6)
- Outubro de 2005 (6)
- Dezembro de 2006 (5)
- Setembro de 2005 (5)
- Julho de 2006 (4)
- Junho de 2006 (4)
- Abril de 2006 (3)
- Janeiro de 2006 (3)
- Março de 2006 (3)
- Novembro de 2006 (2)
- Outubro de 2006 (2)
- Setembro de 2006 (2)
- Agosto de 2006 (1)
- Bozzetto (1)
- Fevereiro de 2005 (1)
- Fevereiro de 2007 (1)
- Janeiro de 2007 (1)
- Maio de 2006 (1)
- fevereiro (70)
- março (39)
- abril (8)
- maio (7)
- junho (7)
- julho (6)
- agosto (5)
- setembro (7)
- outubro (8)
- novembro (3)
- dezembro (2)
- janeiro (10)
- fevereiro (9)
- março (5)
- abril (5)
- junho (3)
- julho (2)
- agosto (1)
- setembro (2)
- outubro (1)
- novembro (6)
- dezembro (7)
- janeiro (4)
- fevereiro (10)
- março (7)
- abril (4)
- maio (2)
- junho (4)
- julho (4)
- agosto (2)
- setembro (1)
- outubro (6)
- novembro (3)
- dezembro (1)
- março (3)
- junho (1)
- novembro (3)
- dezembro (1)
- março (1)
- julho (3)
- agosto (1)
- setembro (3)
4 comentários:
Gostei das vísceras do porco... Vá-se lá saber porquê. Mas tu sabes que eu adoro essas coisas. Agora, a parte da "cola rasca"... Se o raio do velho estava a ler o papel, e se este estava afixado, porque é que a cola era rasca? Não estava a cumprir a sua função? Vê lá isso.
Bj.
A. Jorge Oliveira
Outra coisa. Então a mulher alimentava toda a aldeia e estava na cidade? Sim, porque referes que ela encontrou e falou com o velho na cidade. ai ai ai ai... Foca-te nos textos como se estivesses a vivê-los. Não a inventá-los. Caramba.
Bj.
A. Jorge Oliveira
Parece-me que estamos perante um problema agrícola. Senão vejamos, um molho de couves, a matança do porco, um porco com vísceras e pão num forno de lenha. Isto cheira-me a terceiro mundismo. Os desafios da modernidade são muito mais envolventes e ambiciosos...
Considero que o problema tem duas vertentes: a Política Agrícola Comum e o uso dos solos.
Quanto à primeira penso que fará parte de uma estratégia dos franceses para tramar os portugueses e o Sarkozy, hummmm, é o chefe dos guerrilheiros....
Quanto à segunda vertente, a má utilização dos solos tem gerado a proliferação das ervas daninhas que f....a agricultura.
Concluindo, todos nos f....
Para terminar parece que há por aí umas ervas daninhas que estão a dar cabo do amor tal como o conhecemos. Até o Esteves Cardoso escreveu que o amor é f.....
Pelo sim e pelo não, oh Carolina, vide um dia de cada vez porque o amanhã talvez não exista.
Pfffff... É que nem resvalou no precipício da originalidade.
"Tell me Pablo, how do you make love with a cube?" (Modigliani)
Beijo loirinha.
A. Jorge Oliveira
Postar um comentário