Encontraram-te caída. Uma despensa como todas as que existem em todas as casas: claustrofóbica.
Deixaste, em cima da mesa, um anel prateado – e pelo que contei nele – trinta e sete letras e nenhuma forma a palavra que conheço, que quero encontrar e que me leve ao decifrar do porquê do teu corpo junto a um balde ainda molhado e meticulosamente arrumado por ti…
Vasculho os teus livros (tantos). Caem deles recortes de imagens e rostos com cores – tanta vida aqui espelhada – bilhetes de concertos que não foste e que pedias ao teu primo Óscar. Tinhas todos.
Do chão agarro uma mortalha enrugada, que quase não parece uma mortalha.
E nestes livros.
(Tantos)
Tento encontrar-te
Um sinal
Terás deixado dentro deles o motivo da tua morte? Uma frase? Um desenho? Um pensamento sublinhado? Uma folha rasgada sob fúria?
Procuro-te, “com uma dispersão de pardal”, em cada frase, em cada palavra riscada, em cada flor e sorriso que desenhaste aliados ao sentido de todas as ideias que te faziam sorrir, por dentro, sem que ninguém soubesse, sem que ninguém desse conta.
(talvez nessa alegria - que não tinhas – adivinhe o desejo da tua morte)
“Ás vezes, como agora, é assim: ponho-me diante do papel e não sai nada, as palavras recusam-se, as coisas que andam na minha cabeça não se fixam nem descem para a mão, e vai daí continuo sentado, à espera, neste trabalho de paciência, a ver quem é mais teimoso, se a minha cabeça, se eu.”
Nada me leva à razão de te perder. Nada.
Continuo a procurar-te por entrelinhas traiçoeiras e sinuosas.
… E encontro as tuas paixões: a botânica, o mar, os tubarões, as orquídeas, as casas de banho com música e café. Encontro-te, como sempre: apaixonada, simples, de humor flutuante. Tão simples que me assustavas.
Eu, raramente soube sê-lo, era um esforço que fazia (porque só assim te podia ter junto a mim)
Fingindo ser eu
Ligo à única pessoa que amas. Disse-lhe que deixaste um poema de duas linhas (quase) simétricas – a longevidade da tua dor demarcada ali – tão real, tão dilacerante
Duas simples frases
Simplesmente tuas
Unicamente duas simples frases
Tão simples como tu
“Por ser tua
Deixarei de ser”
Deixaste, em cima da mesa, um anel prateado – e pelo que contei nele – trinta e sete letras e nenhuma forma a palavra que conheço, que quero encontrar e que me leve ao decifrar do porquê do teu corpo junto a um balde ainda molhado e meticulosamente arrumado por ti…
Vasculho os teus livros (tantos). Caem deles recortes de imagens e rostos com cores – tanta vida aqui espelhada – bilhetes de concertos que não foste e que pedias ao teu primo Óscar. Tinhas todos.
Do chão agarro uma mortalha enrugada, que quase não parece uma mortalha.
E nestes livros.
(Tantos)
Tento encontrar-te
Um sinal
Terás deixado dentro deles o motivo da tua morte? Uma frase? Um desenho? Um pensamento sublinhado? Uma folha rasgada sob fúria?
Procuro-te, “com uma dispersão de pardal”, em cada frase, em cada palavra riscada, em cada flor e sorriso que desenhaste aliados ao sentido de todas as ideias que te faziam sorrir, por dentro, sem que ninguém soubesse, sem que ninguém desse conta.
(talvez nessa alegria - que não tinhas – adivinhe o desejo da tua morte)
“Ás vezes, como agora, é assim: ponho-me diante do papel e não sai nada, as palavras recusam-se, as coisas que andam na minha cabeça não se fixam nem descem para a mão, e vai daí continuo sentado, à espera, neste trabalho de paciência, a ver quem é mais teimoso, se a minha cabeça, se eu.”
Nada me leva à razão de te perder. Nada.
Continuo a procurar-te por entrelinhas traiçoeiras e sinuosas.
… E encontro as tuas paixões: a botânica, o mar, os tubarões, as orquídeas, as casas de banho com música e café. Encontro-te, como sempre: apaixonada, simples, de humor flutuante. Tão simples que me assustavas.
Eu, raramente soube sê-lo, era um esforço que fazia (porque só assim te podia ter junto a mim)
Fingindo ser eu
Ligo à única pessoa que amas. Disse-lhe que deixaste um poema de duas linhas (quase) simétricas – a longevidade da tua dor demarcada ali – tão real, tão dilacerante
Duas simples frases
Simplesmente tuas
Unicamente duas simples frases
Tão simples como tu
“Por ser tua
Deixarei de ser”
Um comentário:
Congratulations! You won a ticket to André Benjamim. Have a nice trip.
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