sexta-feira, 7 de setembro de 2007



Começo hoje a escrever um diário.

Tem sido tarefa difícil.
Pensei na história pelo fim, mas o fim não sei qual é…
Esforço-me e as ligações neuronais estão em furor, prestes a rebentar; franzo as sobrancelhas e acumulam-se as expressões em rugas, estão cada vez mais demarcadas.
O sol…
O sol também não ajuda. Canso-me rápido. Ainda não será hoje.




Por detrás dos óculos de sol ninguém vê a morte dos meus olhos – encerrados por muros imaginados e fadiga diária – impedem-me de observar o mundo tal como ele é.
Como será que é?
Será melhor assim? Não ver luz e cor? Apenas sentir?
Ora vejamos,
Posso estar distraído e ninguém sabe, impossibilito qualquer um de apreciar o meu estado de humor
(alma encerrada dentro – apenas – em mim)
Ser cego não me impede de ser o que realmente desejo – ser livre.
Tenho uma vida como a “dos comuns visuais”: tenho uma família, que sempre me ajudou na conquista de autonomia – que alcanço a cada dia que passa; levam-me à carrinha que me transporta mesmo até à porta do emprego. Desenvolvo projectos. Crio-os. Planifico-os. Executo-os. Sinto-me realizado a nível profissional, é uma conquista diária…
Não vou escrever desilusões: entristecer-me voluntariamente, não vou.

Perguntaste-me se não me recordava de ti. Eu disse-te que sempre foi mais fácil aos outros me reconhecerem, que eu a eles. Mas sim, lembro-me de ti… Foste tu quem me salvou.
Um lago imenso à minha frente.
(Não te disse que o meu verdadeiro desejo era mesmo desaparecer nele, sentir toda aquela água invadir-me…)
A tua força elevou-me.
De novo. O vento.

Porque me salvavas?...

Nunca cheguei a sabê-lo…

Hoje trabalhas comigo. Continuamos a almoçar. Às vezes. Junto ao mar.

No lago, as maçãs caem, em intervalos imprecisos, no chão que piso e que tu pisas a meu lado.
Uma nova página
(oiço-te folheá-la),
do livro comprado em desconto na livraria em que trabalhas ao fim do dia.
É uma estranha paz esta.
O som dos patos. A imagem das cores. A tua companhia.
“O amor está no que menos esperamos…”


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