segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Vejo o pôr-do-sol no mar. É segunda-feira. Peço-te algum silêncio. Tendências. Começa por uma ordem, intercala num aceno, finda num olhar de condescendência. Prevêm-se 6 emoções num rosto humano: alegria, cólera, aversão, medo, surpresa, tristeza. Estudiosos falam agora numa nova: o desprezo. Possível de se assemelhar à aversão, podendo o desprezo ser expresso como agradável ou desagradável, já o aversão não. Acenas-me ao longe. Estás perto do mar e eu numa esplanada, invento-te como minha companhia: a imaginação, adorável companhia!
Procuro a harmonia em objectos. Um cinzeiro comum. Uma chávena branca com café. Sete pedras, que escolhi como as mais bonitas, trazidas pelo mar. Um caderno de argolas e riscas azul turquesa, laranja, v-e-r-d-e e rosa de vários tons. A mesa abana. A areia sob o olhar, aqui tão perto, separada por tábuas de madeira verde-areia e calçada nova. As ondas provocam o inverno. Tornam-se o fim do mar, que quer nas suas bermas crianças e castelos, namorados e dias quentes, corpos ao pôr-do-sol. Vejo fúria nele. Espuma amarga de revolta em ondas que aparentam cansaço. Parece estar doente. A noite começa a chegar. E com ela vem o retiro, compras de supermercado e preparativos para o jantar. Poder escolher o jantar tem desvantagens. Como em qualquer escolha. Tendemos para o rotineiro e maquinal ou ousamos experimentar outros paladares. Opto pelo não-jantar. As sete pedras perdem a cor que me levou a escolhê-las do areal molhado, mesmo com outras tonalidades, foram as que escolhi e que vou guardar com especial carinho. O cigarro acaba. As luzes no vidro, deste café à beira mar, reflectem a iluminação das ruas abandonadas. Os dedos pedem para terminar o que escrevo.
"O que sei é que se não estivermos a sentir a nossa vida, somos obrigados, antes de mais, a fazer tudo o que for preciso para a sentirmos..."
andrea

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

o amor também se gasta

Suponho que seja o único caminho a seguir, voltar atrás e destruir o que ainda resta de nós. Porque só assim podemos esquecer, só assim podemos largar. Só assim poderemos alguma vez parar de nos procurar numa ausência preenchida de sentimentos ainda por esgotar – o amor também se gasta. Suponho que o único caminho seja gastarmos o que resta desse amor que tem que acabar. Sempre com a certeza que será a última vez, que tem os dias contados. Com a capacidade de entender que durará apenas até o amor se gastar de vez. Que ainda que possa parecer que tudo está bem outra vez, tudo voltará ao mesmo mais dia, menos dia.
O fim tem sabor de sequela. A dor ainda é demasiada para a vivermos separados, pareceu tudo de repente, não pareceu? O coração não aguenta, as mãos insistem em estender-se sobre a mesa procurando-se. Há toda uma necessidade de resistir a mais impulsos que aqueles a que é possível resistir. E nas palavras (poucas) que trocamos descaímo-nos sempre para aqueles nomes carinhosos e parvos porque nos tratámos. Tínhamos tantos planos, tantas coisas para viver, que ainda não é possível fugirmos disso. Ainda não é possível fazermos outros planos. Considerar outras pessoas que não a nós. Nem que seja por vingança, de nunca vires a ter ninguém como eu. Suponho que o único caminho seja esse. Destruir tudo o que (ainda) temos, para nunca mais voltarmos sequer a olhar-nos, para podermos seguir em paz.
Pedro Guerra #

Ambiente da casa, dos cafés, do bairro
que vejo e percorro: ano após ano.
Criei-te de alegrias e tristezas:
de tantas circunstâncias, tantas coisas.

E já não és senão como te sinto.

constantino cavafy


a cama como refúgio

num colchão vestido de inverno
os lençóis a oferecer regaço ao corpo
a cor do quarto é feita de palavras engasgadas na garganta
a tua respiração ainda se sente nas roupas que te esperam nas cadeiras
e apesar do sono talvez gostar de ausências
porque não abres a porta? é tudo o que me falta para as palavras deixarem de ser pele

Maria Sousa

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008




















Escolhes e estarás curada.
Para ti. Vendavais de silêncios. Ressoam nos ramos de sobreiros junto ao rio, repetem-se em noites altas sem lua. Uma mordaça. Uma voz. E fantasmas aqui e ali, sem que saibas. A história de uma inexistência imaginada, presa ao ardor e calor de um coração que arrefece e aquece - de novo arrefece aquece, esquece, perdoa, revive, perde, inventa. O quê? O que dizias? Não ouvi. Podes repetir? Por favor. Estava a dizer-te que a lua está tão perto do rio. E, às vezes, de nós. Há amor de pele. Amor de olhos. Amor de corpo e sangue bem quente. De cheiro intenso. Que mata. Que nada faz contente. Amor tão certo que acaba de vez. É acabar num amor igual e começar um amor diferente. Sempre. Para sempre. Para sempre. Latejar dentro de uma gruta. Explosão indómita. Agressão ensurdecedora. Tudo isto e nada disto. Custa assim e assado. Custa. E basta. Porque esta melodia fez sentido - e deu sentido - a milhares de quilómetros de caminhos, e hoje não? Foram fases. E a música era cúmplice. A única. Um ano. Agora. Ouvi-la leva-me ao início. Hoje vem e vai. Era um espectáculo que querias ver implodir. Como se o ditame da vida pudesse estar nas linhas de uma mão. Levou-te para um futuro que jamais podias prever. O que acontece hoje não tem condições exactas, nem fórmulas, quais linhas da sorte, futuro e amor? As linhas trilharam-se sem a tua mão.
Nas tuas mãos. Tuas. Deixa que vá. Deixa que entre. Rumo?
Esquecer a mágoa.
Mas não foi. O que nunca foi. Não basta querer.
Quão mais arrojado o desejo mais difícil, mas é isso que é viver: ousar. A face entre as duas mãos, desatentas, e lentamente, finjo que entendo “não basta querer”… Prevejo que isto se adquira desde criança. Blá blá blá. Conversa de psicólogos. Ironizamos para compreender. O doce, por vezes amargo, é doce. Depois perde o sentido. Deixa de encaixar na solidão – saborosa e é desespero, e cigarros. O aperto. As pantufas lado a lado. Os bolos que tens ali. Os domingos e filmes no cobertor. O olhar-querer. O ombro. “Estás bem?” e o mundo parou.
Esconde o teu sorriso. Gostava que fosses “entre-aspas”, para não ter que te dizer como nunca serás e que não se pode tocar com os lábios.
andrea

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Que lógica há neste discorrer caótico que me liga a ti, que me faz procurar-te no verde cruel desta Primavera falsa?


Tu dizias que era ao contrário: que Deus nasce da ignorância própria dos sofrimentos prematuros
Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim, que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedir de pensar.
Creio que nunca te vi doente - a não ser de amor. Cultivavas o vício da paixão com um método implacável.
Nos breves dias em que vivias desapaixonada, tornavas-te impossível. Nada te entusiasmava.
Mas o estilo é uma maneira de ser, não uma farda de fim-de-semana.
De qualquer modo, a morte espreita sobre todos os prazeres dessa cronologia a que nos agarramos para escapar ao tempo. O que somos para além do que vamos sendo?
Fazes-me falta. Mas a vida não é mais do que essa sucessão de faltas que nos animam. A tua morte alivia-me do medo de morrer. Contigo fora de jogo, diminui o interesse da parada.
Enquanto morria, não vi a minha vida em câmara lenta nem vales verdejantes, nem sequer ouvi músicas celestiais
Há a verdade, e era isso o que nos unia; que houvesse a verdade, navio absoluto. Alguns outros concordariam connosco, mas à distância. A distância dos risos e dos copos que se tornou a nova intimidade
Sublinhavas a inteligência e a beleza das palavras dos outros.
Repara que eu não ponho em dúvida a nobreza e vastidão do teu pensar Eras uma tese de doutoramento existencial em movimento. Alguma vez te disse isto? Pensavas tanto e tão bem que intercalavas sempre as citações nos sítios certos.
- Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é e quem joga só com o corpo, dizias tu.
Passei a vida inteira a querer interpretar-te - oh! delicioso desperdício! - e nem sequer era por amor.
De certa maneira, sabíamos de cor o corpo um do outro; trocávamos inibições e desaires como os miúdos trocam cromos.
a relatividade das entregas como regra de entrega absoluta.
Eu era sempre o que parecia, tu ias sendo tudo o que parecias. Creio que por isso fomos tão íntimos - e por isso nos afastámos tanto.
todos me choram, finalmente despidos da maldade pequena, contínua, mineral, que os vivos entre si aplicam como lei de sobrevivência
Nunca mais posso bater a essa porta, nunca mais posso chorar para que a porta se abra e me mostre, na névoa das lágrimas, o lugar do amor.
Permanecias imune aos meus exercícios de charme. Para te dizer a verdade, eu não estava habituado a que as mulheres resistissem ao magnetismo natural dos meus olhos azuis. O dom da minha beleza, que tanto me complicara a vida, deixava-te indiferente - a ti, uma rapariga de modestos dotes físicos, tricotadeira de barcos à vela e teorias da emancipação. Eis o que me intrigava.
4. Há tantas coisas que nunca te disse - e dizias tu que eu falava de mais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão
o melhor de mim vive ainda em ti,
, mas encontrei em ti esse privilégio maior do ensino: uma alma capaz de acrescentar cor à tela que lhe apresentamos.
Se ao menos te tivesse dito "Obrigada". Deus da minha imperfeição, entorna um mililitro da minha voz morta nos sonhos do meu amigo, deixa-me dizer-lhe esse obrigada que tanta falta me faz.
Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite - por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?
Eu usava a música como banda sonora, canções feitas à medida de cada estado de alma -
e eu namorava um astrofísico com o qual só não casei porque ele não suportava a mediocridade de Portugal e eu não suportava a ideia - por muito medíocre que fosse - de viver longe de Lisboa.
Éramos muito novos, sabíamos tudo. Achávamos que a vida era uma instalação multimedia, erguida pelas nossas mãos para a nossa glória. Acreditávamos nos percursos pessoais. E olha para mim agora. Não me vês, claro, provavelmente estás já a esquecer a cor da minha pele, as minhas cicatrizes arrefecidas. Estou perto de ti, sobre o tecto da tua casa, abaixo da linha onírica dos aviões, nesse rascunho de nuvens de onde se alcança uma reduzida visão de conjunto. Posso ver-te a ti, aos teus vizinhos, à tua rua. Posso escolher as ruas que quiser - todas serão iguais, porque eu não estou lá.
Respirávamos o ar lavado dessas primeiras horas,
pelas horas todas que nos esquecemos de viver.
; o verniz das unhas era mais umsímbolo veemente da submissão das mulheres aos homens,
Responderas-Lhe, evidentemente, que não tinhas qualquer problema e que os dentes tortos faziam parte do teu encanto particular
há pessoas felizes de serem como são.
Tu és o único que não me pode esquecer. Esquecemos alguma vez uma parte do que somos? Esquecemos apenas o que podemos isolar na lembrança
Por isso não posso desviar-me do que fomos, a sós, a dois.
Falámos demasiado para que eu recorde do que falámos, vivemos demasiadas vidas para que eu as possa separar
Qualquer dia olho para ti e já não sei quem fomos - encontros, desencontros, iras, ressentimentos, tudo se transforma numa massa fosca, pesada, que abandono a pouco e pouco.
e aprendendo demasiado tarde o que não fui capaz de ver.
Sem o teu coração não consigo amar - não me abandones outra vez. Logo eu, que amava o mundo inteiro, não é? Amar em abstracto é muito mais ágil do que amar em concreto.
tu, fervoroso praticante das distâncias impensáveis. Não sei pensar sem ti.
Nós éramos um do outro. Coincidimos e rejeitámos a coincidência, com a petulância típica dos pobres, confinados à prisão do seu sofrimento. Nós éramos um do outro e não o descobrimos, preferimos respeitar os protocolos da nossa era, dar prioridade à voz obrigatória do corpo. Nós éramos um do outro de outra maneira - de uma maneira escura, espessa, transcendente. O que podíamos nós, escravos da Inteligência Suprema, escutar de transcendente? Como podíamos nós, ilustres servos da História, alcançar a luz trémula do pequeno milagre que nos era dado?
mas o meu Deus só me culpa da imperfeição do meu amor por ti. A imortalidade é irrelevante; deste lado da morte é a mortalidade que cintila: saber-me mortal dava densidade e cor às pedras do meu caminho; porque eu era mortal, a lua lembrava-me o amor e o mistério, e no céu inundado de estrelas estremecia o meu desejo de futuro. A única substância incompreensível é a mortalidade, que só o ser humano conhece
(Inês Pedrosa - extractos I de Fazes-me Falta)



A tristeza tem uma grande vantagem: não precisa de mais ninguém. A felicidade não. É uma chatice. Exige ser partilhada, o que se torna complicado quando não há ninguém por perto. E depois aparece uma angústia que se consome a si mesma. A felicidade faz-se solidão.E depois há todo um preconceito contra a tristeza. Que não se deve sentir, que se deve excomungar quanto antes. Mas talvez, só talvez, a tristeza deva ser vivida com a mesma intensidade que qualquer outra emoção. O doce não é tão doce sem o amargo, ou qualquer coisa que o valha. Tem um encanto que hipnotiza, a sedução de uma música a condizer. E a derradeira beleza das coisas não é senão uma faca que se crava no coração.Assim como assim, acaba sempre em lágrimas. De felicidade. De tristeza. Tanto faz.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008


Ao fim são muito poucas as palavras
que nos doem a sério e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas
que tocam o nosso coração e menos
ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas
que em nossa vida a sério nos importam:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos.


Amalia Bautista

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

eu pelos outros

Trapalhona
Fascinante e fascinada
Sensível
Corajosa
Espiritualmente daltónica – ver diferente das outras pessoas – visão floreada
Que compreende
Que gosta dos mesmos filmes que eu
Que aprecia o que escrevo
Que me apresenta novos livros
Atrevida – atrevidez tímida
Que já aturou coisas que nem a minha mãe aturaria


As coisas más, em tempos tiveste, actualmente acho-as naturais… porque hoje és minha amiga e antes eras namorada.

…………

I like the way you talk
Your face
Your eyes
Your skin
Your smile
Your behavior…


………….

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008




novo ano, sim!!!!!!!




blog maravilhoso, que me faz amar ainda mais o Porto






Passagem de ano tremendamente diferente, louca, irreverente... ainda vivo nela... amigos verdadeiros, o rio douro, as francesinhas no restaurante mira douro, a ponte e mulheres de avental e braços cruzados, a senhora das rugas, os amigos, artes em partes, chás, framboesa e chocolate, leitura para amigos de anais nin para henri miller - o diário intimo, amigos, verdadeiros, decoração única com candeeiros de cores do paraíso, boys, extravagância e madonna, lábios vermelhos... residencial e velhote ensonado, praia de matosinhos e sumo de laranja com os pés na areia, beira mar, tarde, noite, amores proibidos mas permitidos unicamente por nós, seres tão especiais, NÒS: que orgulho tenho em vos ter como meus amigos... Sílvia... és única e doce... noite... fogueira enorme na varanda, proibições, ninguém viu, apenas nós... metro... senhora de matosinhos e a todos um bom natal, semáforos, triplex, bengaleiro com pano negro cheio de tudo, super bock de garrafa, Nós... outra vez, sempre nós, únicos, nós!!!!!! mil dançares, parede vermelha, dança sensual entre corpos sem sexo, beijos inocentes entre amigos tão especiais...


informação adicional: capacidade de alegrar as pessoas

Dia mais feliz (e tal com disseste): Muitos. Se calhar porque - e ainda bem - consigo ficar imensamente feliz com quase nada.
"É dos pequenos gestos simples que tiramos as maiores alegrias. É com atitudes genuínas, desinteressadas e espontâneas que conseguimos proporcionar, aos outros, melhores momentos. A nossa vida está nas nossas mãos. Com coragem e determinação, os momentos difíceis são apenas desafios interessantes, e 2007 mostrou-me que sou bem mais forte do que pensava. Aprendemos com os nossos erros e com as nossas conquistas. Temos bons e maus momentos, e é essencial que vivamos cada um deles com intensidade, conscientes da sua importância no nosso crescimento pessoal. É mais um ano que passa. Mais um balanço que fazemos. Mais uma série de novos planos. Saudades, tristezas, mágoas que nos assaltam e tentamos disfarçar. Um novo ânimo a que nos agarramos com unhas e dentes e que parece dizer-nos que o novo ano será melhor. No mínimo, será diferente. " S.F
Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou; que me sento na cama, distraída, a dobar demoras e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós. Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por causa dos outros laços que não desfaço, sei que o amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou; que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso sempre, mas não de mais; e que os invernos que ele não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos separam, escondem a minha nuca na gola do casaco, mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.
- Maria do Rosário Pedreira -


façam vocês!



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