sexta-feira, 10 de julho de 2009



hoje acordei com dores no futuro
do lado esquerdo do possível. uma vaga sensação de dor de cabeça entre o que podia ter sido e o que é.
alguma coisa me diz que esta dor vai ficar; é assim aos trinta, o corpo começa a ter hábitos, um esticão naquele joelho, a enxaqueca depois da ressaca. alguma coisa me diz que esta dor se semeou em mim, coisa que nasce na alma e porque é mais real que o real, estaciona-se no meu corpo, tem braços e queixas e manifestações. e cresce, cresce sobretudo quando não dou por isso, quando o lado esquerdo do possível morre um pouco mais. aí mergulha dentro de mim mesmo, expande-se, e aquilo que se via de frente para o futuro fica um pouco mais escuro.
não acredito em dores domesticadas: pertencem a quem quer sofás na alma. acredito em dores identificadas, olhos nos olhos, que andam connosco dentro do peito, uma cicatriz que abre tanto que um dia pode até trazer luz, sem esperarmos por isso. podem fazer muito por nós, e dentro dessa dor posso levantar-me, dar de beber ao mundo, compreender o coração que nunca terei.
são grandes espelhos, rasos como lâminas, e tão férteis que o sol dói quando se olham de dentro até ao futuro.
Publicada por Pedro Sena-Lino em
Segunda-feira, Junho 29, 2009 3 comentários


Nenhum comentário:

Visitantes: