quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Dorme bem

Demoraste a abrir e sabes o que isso provocou? Tenho mais sono.
Sinto-me num estado de sono intermédio; o que sentes quando estás na fase inicial de uma hipnose - o sono intermédio; que é o mesmo que estar cheia de sono e os teus olhos de tão vermelhos não conseguirem focar nada em precisão.
Deixa lá o devaneio e diz o que querias dizer.
Faleceu um senhor de 92 anos, com umas orelhas gigantes e um sorriso, o mais maroto que conheci. Trabalhou desde muito novo, acabou a sua vida numa cama de um lar. Ao seu lado um senhor de pele reluzente. Deitado de barriga para cima, o olhar focado no tecto, uns olhos brilhantes. Perguntei-lhe em que pensava. Ele disse: Em nada...
Há quanto tempo está aqui deitado?
"Há um ano"...
A pensar em nada

Beijei-lhe a testa e disse "Bons sonhos meu senhor".

Era já 7 da tarde. Noite. Uma senhora trazia junto ao peito, bem junto a si, um bacio azul. Arrastava o andar. Penteava com um pente os cabelos brancos e aguardava calmamente a sua vez para ir à casa de banho antes que... antes que quê? Antes que quê???

Ir a um lar de idosos é impressionante.
Não há uma única vez que eu saia dali bem.
Deixo para trás uma realidade que também será um dia a minha...
Penso para comigo que nunca mais verei aquele senhor de sorriso maroto, que teve um fim de vida "natural", e que naquele dia ainda soube relatar as marotices vividas ao lado do seu comparsa de banco de jardim da pequena aldeia. Marotices essas que lhe deram aquele sorriso naquele momento e que docemente recordo. Sei-o feliz. Teve uma vida feliz. Bem passada ao sol num banco de jardim. Até na morte sorriu. Dei-lhe um abraço caloroso, apertado e disse "Durma bem".
É muita estranha esta sensação de ter a certeza que será a última vez que vejo alguém que gosto muito...

12 Dezembro 2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Incomodam-me imenso, os lares. Essa sensação de que falas é sem dúvida má, mas imagina como seria talvez pior despedires-te pensando que ias voltar a ver a pessoa de novo, e deixando assim talvez tanta coisa por dizer. Nunca hei-de pôr ninguém num lar, e antes me mato a ir para um.

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