quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Não é normal estar-se feliz?


Segundo a psicóloga Helena Marujo, autora, com Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro, do livro ‘Educar Para o Optimismo' (ed. Presença).

O optimista "é uma pessoa que é capaz de se rir das suas desgraças, que encontra sempre alguma coisa de positivo, de engraçado, de divertido, em particular nas experiências menos positivas. É aquele que sonha e que corre o risco de que esse sonho se venha a realizar. É aquele que acredita que tem capacidades para gerir o seu destino, e que a vida não é uma coisa imposta mas algo que se constrói".

Se ainda não está muito convencido/a, observe as vantagens imediatas: "É quando sou confrontado com um problema que sei se sou optimista ou pessimista. Quando bate com o carro, o pessimista pensa: ‘Que chatice, lá tenho de pagar não sei quantos contos, lá fico sem carro não sei quanto tempo.' 0 optimista pensa: ‘Ainda bem que ninguém se aleijou.’ E enquanto o outro lamenta. ‘Isto só a mim!', já o optimista chamou o reboque e se meteu num táxi."
Apesar de a maioria das pessoas ter uma atitude optimista, a cultura portuguesa não prima pelo pensamento positivo. Os telejornais são o choradinho que se sabe. E a voz do povo também não ajuda. Quem não se lembra de ditados tão animadores como "Quanto mais alto subires, de mais alto cairás", "Quem vai ao mar perde o lugar", e o supra-sumo do optimismo: "Muito riso, pouco siso".

Não é normal estar-se feliz?

"As pessoas optimistas são aquelas que acham que a vida vale a pena ser vivida", nota Filipa Monteiro, 26 anos, jornalista. "Mas a partir de uma certa idade és suposta portar-te como deve ser. Se depois dos 11 anos andas no meio da rua a rir, toda a gente diz: ‘Olha aquela pateta No trabalho, ficas com fama de palhaça e corres o risco de não te levarem a sério."
"Na nossa cultura, por mais estranho que pareça, não é normal estar-se feliz", nota Helena Marujo. "A nossa filosofia é esperar o pior para estarmos sempre preparados. Depois quando as coisas correm bem, ficamos contentes. 0 pior é que enquanto estás a pensar a vida vai correr mal, estás a sofrer. Para além de estares a aumentar a possibilidade de que te corra mal mesmo."
Educada em Portugal por pais ingleses, Isabel Stilwell, directora do ‘Notícias Magazine, nota principalmente uma diferença de descontracção entre as duas culturas. "0 que eu acho que é muito inglês é a capacidade de nos rirmos de nós próprios. Talvez as coisas boas não sejam levadas muito a sério, mas os fracassos também não. É importante sermos pais optimistas, embora os miúdos só aos 10 anos tenham capacidade para se rirem das próprias asneiras. Em Portugal, parece que nunca passamos dessa fase: as pessoas acham sempre que nos estamos a rir delas próprias, não das situações." A alegria, o sentido de humor (às próprias custas ou na variante negra, tão mal entendida entre nós) estão ligados ao optimismo. "Eu rio-me muito de mim própria, e às vezes dizia coisas como: ‘sou mesmo idiota, dou tantos erros’. Depois ouvia: `A Isabel, até ela própria, admite que dá erros’. Costumava dizer que, em Portugal, à primeira riem, à segunda acreditam. E mistura-se muito seriedade com sério. Numa reunião, por exemplo, fica muito mal alguém estar a rir e a dizer piadas."
Assim, Atitude positiva!


01 Fevereiro 2006

Um comentário:

Anônimo disse...

é, é das coisinhas que mais me irritam nesta luso-cultura! O pessimismo, a auto-comiseração, a falta de confiança, a falta de iniciativa, o fatalismo, o medo do erro, o pavor da critica e a incompreensão do humor negro!

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