Um dia ele levantou-se e gravou numa fita tudo o que as pessoas diziam na rua. Passou o dia às voltas, a entrar e a sair de autocarros e a entrar em todos os grandes estabelecimentos. Depois voltou para casa. Gravou coisas como: Nunca, talvez sim, isso também me interessa, tudo o que quiseres e por agora nada, continuo à espera, não acredito que tenhas forças, dou-te amanhã, não há dinheiro, não há dinheiro, não há dinheiro, vai-te embora, vem, vai-te embora, volta, estou sozinho, já não me interessa, ganhámos, tu dizes-me cada coisa, corre, corre, corre, demasiado tarde, demasiado cedo, tivesses dito, outra vez sozinho, se não fosse tão bonito, deus sabe que tentei, ninguém sabe quanto, não me ama, um trabalho novo, sapatos novos, carro novo, quase nem posso mexer as mãos, sou jovem, já não sou tão novo, que esquisito, sozinho, se não chover ou se calhar chove... e no princípio e no fim da gravação:
Amo-te, já não te amo.
Ray Loriga
Ray Loriga
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