sexta-feira, 26 de março de 2010

Aos mais destemidos, ouvia-lhes a previsão e o cálculo na frase “da próxima vez já não estavam cá”. Aos outros. A esses. Via-lhes no olhar as palavras, em desespero suspenso, no piso dos acamados. Ninguém sabia quem ela era, o que a levava a visitá-los todas as manhãs de sábado.
Era melhor morrer a viver assim, ressoava nos corredores.
A profundeza da afirmação ganhou impacto naquele cubículo, rodeada de cadeiras verdes e revistas sobre a mesa, à espera do carimbo no próximo exame médico, analisa friamente as possibilidades.
A avó dissera-lhe, em quatro anos, sempre que se despedia dela, que era a última vez, e nesse dia acertou.
(queria ter a certeza dela)
É jovem. Vive refém de hospitais, exames, salas de espera, rostos cinzentos, o dia da notícia, a irmã a chorar, a filha inês só tem três anos, as viagens por fazer, o dia de amanhã e todos os tratamentos ainda sem data e fim.
Hoje em dia há cura para tudo, dizem-lhe. E ela não quer saber.
Dirá à senhora do carimbo que é a última vez, e tal como a avó, acertará.

andrea

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