sexta-feira, 26 de março de 2010

Na última reunião de condomínio, que decorria na ampla garagem do prédio, trazia a música tão alta que nem reparou naquele aglomerado humano. Um homem irrompe do grupo a gesticular “baixe o som!”.

Mais um dia, terminado em frenesim

Já não sabe os detalhes das actividades para amanhã, agarra na agenda antes de sair do carro, revê os afazeres que lhe roubam o tempo para o voluntariado no banco alimentar, adiado há um ano, para a visita ao pai que está em lista de espera, o tempo que deixou de ter porque assim tem sempre tempo para adiar o que dói. Essa atitude tão aplaudida por todos, quanto mais fizeres melhor, defeito aceitável para os amigos, valorizado no mundo do trabalho, o que acaba por escassear é apenas a coragem, sabe-o bem.

Eva corrige o olhar levando o rímel, a mala dos mil processos vai subir com ela, o som alto abandona a garagem e fica aprisionado no carro, diz a todos boa noite, e a reunião prossegue.

andrea

Um comentário:

JR disse...

Só para que saibas que passei por cá... Já conhecia os teus textos, lidos de viva voz, o que lhes dá um interesse suplementar.
Li também coisas mais antigas como aquele exercício para provocar suspense e que acaba com a "maldita hora que fui àquela entrevista".
Gostei especialmente da ficção intitulada "O último cigarro"
Com o curso de CE acabado, está na altura de voltares ao blog... cheia de energia.

Boas escritas.

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