sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Arte…
O véu é turquesa, cor ciano opaca, azul céu, contraste de magenta luz azul e vermelha, cor de castiçal e velas acesas.
O véu organiza-te neste quadro, tens cabelos rios findos em mar vermelho e opacidade de águas turbulentas. A recusa nos teus gestos, realça-te a beleza que me faz amar-te. Uma recusa é uma evidência. Comunicas comigo -afastando-me,
O véu é turquesa, cor ciano opaca, azul céu, contraste de magenta luz azul e vermelha, cor de castiçal e velas acesas.
O véu organiza-te neste quadro, tens cabelos rios findos em mar vermelho e opacidade de águas turbulentas. A recusa nos teus gestos, realça-te a beleza que me faz amar-te. Uma recusa é uma evidência. Comunicas comigo -afastando-me,
Ficarei mais lúcido, se me recusas?
Eu…
Faço parte desta massa amorfa. Tenho a cara amarelada e cabelos cinzentos, visto-me de castanho-escuro. E a minha voz? Arrasta-se sem verdades.
Voltemos ao início.
O dia não começou como previsto.
Trabalho por turnos.
Durmo quando o sol teima em entrar - invasor inoportuno - pelas janelas que, quase sempre, deixam passar uma réstia de luz. Soletro palavras-palavrinhas, logo pela manhã, falinhas de que nada me valem.
Tenho o vício do desajustamento, que se revela, com o tempo, como a única forma de me ajustar neste encaixe imperfeito - mas o único – que encontro para mim.
Vivo insatisfeito. É tão forte o meu inconformismo. Irrito-me mas não faço nada para mudar.
Qual o meu lugar?
Unicamente assisto, passivo. Vejo as multidões, pessoas apáticas, insípidas e de coração preso à merda das suas vidinhas, egoístas inveterados e sem cura.
Arte…tu
Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é
E quando não se vê?
És. Mas não se vê.
Ou não vês?
Eu
Passo despercebido, é tão mais fácil. Basta acenar com o olhar. Um esgar invejoso. Já nem sorrio. Disfarço. É simples.
(…)
Tu… arte
Eu…
Faço parte desta massa amorfa. Tenho a cara amarelada e cabelos cinzentos, visto-me de castanho-escuro. E a minha voz? Arrasta-se sem verdades.
Voltemos ao início.
O dia não começou como previsto.
Trabalho por turnos.
Durmo quando o sol teima em entrar - invasor inoportuno - pelas janelas que, quase sempre, deixam passar uma réstia de luz. Soletro palavras-palavrinhas, logo pela manhã, falinhas de que nada me valem.
Tenho o vício do desajustamento, que se revela, com o tempo, como a única forma de me ajustar neste encaixe imperfeito - mas o único – que encontro para mim.
Vivo insatisfeito. É tão forte o meu inconformismo. Irrito-me mas não faço nada para mudar.
Qual o meu lugar?
Unicamente assisto, passivo. Vejo as multidões, pessoas apáticas, insípidas e de coração preso à merda das suas vidinhas, egoístas inveterados e sem cura.
Arte…tu
Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é
E quando não se vê?
És. Mas não se vê.
Ou não vês?
Eu
Passo despercebido, é tão mais fácil. Basta acenar com o olhar. Um esgar invejoso. Já nem sorrio. Disfarço. É simples.
(…)
Tu… arte
Olho-te,
Neste quadro,
recolho mais uma imagem de ti,
- a que não queria -
essa recolha destabiliza-me,
acrescenta outras expressões
de ti
para ela
Eu…
Quero rasgar-te por completo sem te queimar.
Rasgar-te
essa recolha destabiliza-me,
acrescenta outras expressões
de ti
para ela
Eu…
Quero rasgar-te por completo sem te queimar.
Rasgar-te
entregar-te.
Docemente.
Servir-te ao desprezo,
Docemente.
Servir-te ao desprezo,
- como que um ódio -
embrulhado em mirtilos e uma rodela de laranja.
Que belo degusto.
Que belo degusto.
O meu lugar não é aqui. . .
Terei de me confrontar, mais quantas vezes, com esta insatisfação? Para perceber que não é realmente por aqui?
Reincide
Repete
Reincide
E obrigo-me a gostar
Reajusto-me ao que não sou
deixo de ser.
Por vezes finjo que vale a pena.
Tu
Ema,
diz-me.
Por vezes finjo que vale a pena.
Tu
Ema,
diz-me.
Como se inventa o amor?
Ema…
de cabelos ruivos, envoltos por um véu azul-turquesa, de olhar límpido e calmo...
És tão transparente que te aniquilas a ti própria.
de cabelos ruivos, envoltos por um véu azul-turquesa, de olhar límpido e calmo...
És tão transparente que te aniquilas a ti própria.
Ema...
Quero amar-te.
andrea
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, fevereiro 22, 2008 3 comentários
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
as palavras nascem de um lugar misterioso... dizes-me
"É curioso ver que quase todos os homens de grande valor têm maneiras simples; e que quase sempre as maneiras simples são tomadas como indício de pouco valor"
Leopardi, Giacomo
Publicado por Eva Jasmim às quinta-feira, fevereiro 21, 2008 0 comentários
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
menina limão e dias que correm
Tenho uma tristeza redonda mas incontornável. Carrego-a. A maior parte do tempo carrega-me ela a mim. Tenho-lhe, por isso, a estima do bicho abraçado pela própria toca. Não devemos desprezar o que nos acolhe nos braços sem reservas. Eu não penso se gosto dela, não é equacionável. Vejo a forma como se mantém intacta pelas estações, como escarnece das árvores que se renovam. A minha tristeza não se atira ao chão como as folhas, não se despega da pele quando tomo banho – antes me turva a água como me turva os olhos. Soube-lhe o travo desde o início, veio traindo a saliva ao primeiro beijo. Às vezes a tristeza passa dos meus fluidos para os teus e fecunda-te. É mais perigosa que o teu esperma. Não te enganes com os meus beijos, repara antes nos meus olhos. Tenho uma tristeza fotogénica. Uma amiga viu-me o rosto impresso e disse é este o teu olhar triste. É uma tristeza invejável. Mais verdadeira que muitas entregas de corpos na imprecisão da madrugada.
A certa altura, a Susana encontrou o amor da vida dela. Foi a maior libertação que poderia alguma vez sentir. Agora, podia concentrar-se em encontrar a pessoa com quem passar o resto da vida. Porque são sempre pessoas diferentes. E nunca resulta pelas razões mais estúpidas. Porque é a velha história dos opostos. E o amor da vida é sempre demasiado oposto. Demasiado arrancado do coração.
A Susana, como todos nós, amou demasiado o amor da vida dela. Perdeu demasiado tempo a sonhar, a achar que ia durar para sempre. Perdeu demasiado tempo a dar demasiado de si. O amor da vida tem esta coisa dos demasiados que na altura parece sempre tão perfeito, mas apenas porque não vemos a condenação no fim da estrada. Parecendo que não, o simples facto de se achar que é para sempre estraga tudo, sempre. Porque o amor da vida surge sempre na altura que achamos que mais estávamos a precisar, quando ainda acreditamos incondicionalmente no amor e na paixão e nos sonhos a dois. O amor da vida ainda não tem a maturidade de nos deixar abandonados. O amor da vida é um embate a cem quilómetros por hora contra uma parede, com tudo de espectacular e doloroso que há nisso.
O amor da vida é explosões, prédios a cair, gritos, lágrimas, é música tresloucada em volumes impróprios. São corações a bater demasiado depressa, são demasiadas coisas, demasiado ao mesmo tempo. Tudo muito, em muito. E de repente, acaba. O amor da vida é sempre uma história mal acabada que nunca chega a acabar-se, apenas se esquece. E faz tremer se por acaso se reencontra.
O amor da vida é o das coisas grandes, das coisas pequenas que parecem grandes.
O amor de uma vida não. É tudo aos poucos, não fosse o medo de sermos abandonados de novo. O amor de uma vida não o procuramos, aparece quando não esperamos. É maduro e feito de silêncios sorridentes. É um dia de cada vez. O amor de uma vida surpreende-nos a meio da noite. O amor de uma vida sabe o que dizer, até porque quase sempre compreende realmente o que pensamos e dizemos e vivemos. O amor de uma vida completa-nos, conhece-nos, gosta dos nossos defeitos. Faz por nós aquilo que mais ninguém faria.
A Susana tem oitenta e três anos, ainda está à espera.
http://diasquecorrem.blogspot.com/
Publicado por Eva Jasmim às quarta-feira, fevereiro 20, 2008 1 comentários
nem sempre podemos fazer força
fechar os olhos durante algum tempo,
f
a
z
e
r
força,
para que desapareça - tal como quando estamos num pesadelo -
hoje fechei os olhos
com força
outra vez
Força!
abriram-se
e era realidade...
Publicado por Eva Jasmim às quarta-feira, fevereiro 20, 2008 0 comentários
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
“Fora do normal? Comer tarte de cenouras é fora do normal?”
O que é isso da realidade?
Passo pouco tempo com ela. Passo muito tempo fora dela. Demasiadas exigências todos os dias. Respondo sem envolvência nos momentos monótonos, que fazem fila para a casa de banho.
E porque hoje me vesti de rancor e distância.
e porque hoje
Os amigos que nos fogem sem que nos avisem.
Há também os que nos prendem sem que saibam.
Por isso,
Descalço-te.
“Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite - por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?”
E é esta infância tardia que precisava de viver.
Tu
De costas virado para ela
E ela, segura do teu amor
E eu
Agarro os fios ténues e cintilantes deste lenço negro -
“Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite - por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?”
E é esta infância tardia que precisava de viver.
Tu
De costas virado para ela
E ela, segura do teu amor
E eu
Agarro os fios ténues e cintilantes deste lenço negro -
que representa os dias -
e que cobre de pernas frias -
o pescoço, o coração,
assinalando, juntos
as arbitrariedades e probabilidades deste pulsar.
Porque não avisa o maroto?
Porque não avisa o maroto?
Porque dói.
andrea
Publicado por Eva Jasmim às quarta-feira, fevereiro 13, 2008 0 comentários
"Odeio os semáforos. Em primeiro lugar porque estão sempre vermelhos quando tenho pressa e verdes quando não tenho nenhuma, sem falar do amarelo, que provoca em mim uma indecisão horrível: travo ou acelero? Travo ao acelero?, acelero, depois travo, e ao travar de novo já me entrou uma furgoneta pela porta, já se juntou uma data de gente na esperança de sangue, já um tipo, de chave-inglesa na mão, saiu da furgoneta a chamar-me camelo, já a companhia de seguros me propões calorosamente que a troque por um rival qualquer, já não tenho carro por uma semana, já me ponho na borda do passeio a fazer sinais de náufrago aos táxis, já pago um dinheirão por cada viagem e, ainda por cima, tenho de aturar o pirilampo mágico e a Nossa Senhora do Alumínio do «tablier», o espelho de plástico pendurado do retrovisor, o autocolante da menina, de cabelos compridos e chapéu, ao lado do aviso «Não fume que sou asmático», proximidade que me leva a supor que os problemas respiratórios se acentuaram devido a alguma perfídia secreta da menina que não consigo perceber qual seja.
A Segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque, de cada vez que paro, me surgem, no vidro da janela, criaturas inverosímeis: vendedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras vistosas, com uma caixa de metal ao peito, que nos colam autoritariamente, sobre o coração, o caranguejo do cancro, os matulões da Liga do Cegos João de deus, nas vizinhanças de um antifalante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito digno, a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Porto, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões (microcefálicos, macrocefálicos, coxos, marrecas, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes de partidos políticos, etc.), sem contar o grupo de Bombeiros Voluntários que necessita de uma ambulância, os novos finalistas de Coimbra, de capa e batina, que decidiram fazer uma viagem de fim de curso à Birmânia, e a rapaziada da heroína que não conseguiu roubar nenhum leitor de cassetes nesse dia.
Resultado: no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo já não tenho casaco. No terceiro não tenho sapatos. No quinto estou nu. No sexto dei o Volkswagen. No sétimo aguardo que a luz passe a encarnado para assaltar por meu turno, de mistura com uma multidão de bombeiros, de estudantes, de drogados e de microcefálicos, o primeiro automóvel que aparece. Em média, mudo cinco vezes de vestimenta e de carro até chegar ao meu destino, e quando chego, ao volante de um camião TIR, a dançar numas calças enormes, os meus amigos queixam-se de eu não ser pontual."
A Segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque, de cada vez que paro, me surgem, no vidro da janela, criaturas inverosímeis: vendedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras vistosas, com uma caixa de metal ao peito, que nos colam autoritariamente, sobre o coração, o caranguejo do cancro, os matulões da Liga do Cegos João de deus, nas vizinhanças de um antifalante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito digno, a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Porto, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões (microcefálicos, macrocefálicos, coxos, marrecas, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes de partidos políticos, etc.), sem contar o grupo de Bombeiros Voluntários que necessita de uma ambulância, os novos finalistas de Coimbra, de capa e batina, que decidiram fazer uma viagem de fim de curso à Birmânia, e a rapaziada da heroína que não conseguiu roubar nenhum leitor de cassetes nesse dia.
Resultado: no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo já não tenho casaco. No terceiro não tenho sapatos. No quinto estou nu. No sexto dei o Volkswagen. No sétimo aguardo que a luz passe a encarnado para assaltar por meu turno, de mistura com uma multidão de bombeiros, de estudantes, de drogados e de microcefálicos, o primeiro automóvel que aparece. Em média, mudo cinco vezes de vestimenta e de carro até chegar ao meu destino, e quando chego, ao volante de um camião TIR, a dançar numas calças enormes, os meus amigos queixam-se de eu não ser pontual."
António Lobo Antunes
Publicado por Eva Jasmim às quarta-feira, fevereiro 13, 2008 0 comentários
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
how does it feel in my arms?
in olhares.com
-Carlos-
Mundos estranhos. Em tudo existe pequenas dificuldades. Aleatoriamente sucedem-se. Sem que as esperemos.
O branco vive em negrume
Nenúfares com salpicos de água
Um sábado tardio, porque precisava de sonhar.
Sonhar…
Arrumar acontecimentos não-vividos ou ainda por viver, ou talvez não.
Atribuir-te responsabilidade pela minha tristeza é tão mais fácil.
Falo alto para que me oiças. Atribuo um nome ao que não tem nome. Categorizo o que desconheço, o que não vale a pena, então. Espera! Estão ali pessoas a vender açafrão das índias. Jantam connosco? Acompanhas-me?
Vozes de crianças. Discorrem-lhes lágrimas dos rostos.
- Beatriz -
Entre papéis, palavras, raciocínios relacionais e conclusões-luz, que tal, para desanuviar, uma gravação inspirada, música que toca, para o meu amigo Alexandre? Music is food for soul… Apetecia-me agora encher-te de beijos – dizes. Mais uma vez, dizes. Acabaram-se os cigarros. Transformo as garras em roxo escuro. Danço como o demónio. Porque tudo nos influencia. Tenho fobia do desconhecido um medo irracional apodera-se dos meus músculos… e barulhos acústicos apaziguam a alma, aproximam-se borboletas.
Isso implica que tenha de me vestir? E não me apetece.
Comovem-me poucas coisas.
- Carlos & Beatriz –
Lês um artigo de um psiquiatra, que admiras, e começas a falar alto (fazes sempre isso), sem saber se te quero ouvir, interrompes-me - mesmo que eu não queira – maldita habituação, que vem de mansinho e que se instala – parasita - adoece-nos aos poucos, anestesia comoções e aniquila-o-que-nos-uniu.
Oiço-te vociferar com entusiasmo: “somos um primata imaturo, o mais desprotegido da natureza. só não desaparecemos porque colaboramos uns com os outros. no dia em que a sociedade de consumo nos converter em indivíduos robô, corremos o risco de perder esta corrida.
deixamo-nos hipnotizar pelo poder dos media e transportamos essas referências para a nossa realidade. e se há uns tempos as pessoas partilhavam a atenção em torno dos grupos e das famílias, hoje concentram-se nas tecnologias individuais – têm o seu próprio televisor, computador, telemóvel, blogue – e perdem a dimensão dos outros.
aparecem-me pessoas com crises de identidade e concepções ilusórias da vida. a evolução dos papéis sociais tem conduzido ao desencontro entre homens e mulheres.”
Olhas para mim e eu continuo distante. Gostei tanto do que escolheste para mim – fazes sempre isso – mas não consigo dar-te brilho depois de tanto silêncio planeado.
Apesar de tudo, continuas a ter tantos encantos particulares neste pálido viver.
Eu, na minha secretária, entretido com a Internet - primata imaturo e manipulado - pode ser que hoje consiga marcar um encontro com a mulher que não lê alto, e me peça “dança comigo esta noite?”,
que me entenda sem me criticar, que saiba latim e durma até tarde
quem sabe, viajar e ter aventuras?
pode ser que me traga – sem eu esperar – um bacalhau com natas, do meu restaurante favorito, quando tudo o que menos me apetece é ouvi-la rabujar porque ainda não fiz o jantar,
quem sabe,
uma mulher, que com o passar dos anos, ficará como tu?
Mundos estranhos. Em tudo existe pequenas dificuldades. Aleatoriamente sucedem-se. Sem que as esperemos.
O branco vive em negrume
Nenúfares com salpicos de água
Um sábado tardio, porque precisava de sonhar.
Sonhar…
Arrumar acontecimentos não-vividos ou ainda por viver, ou talvez não.
Atribuir-te responsabilidade pela minha tristeza é tão mais fácil.
Falo alto para que me oiças. Atribuo um nome ao que não tem nome. Categorizo o que desconheço, o que não vale a pena, então. Espera! Estão ali pessoas a vender açafrão das índias. Jantam connosco? Acompanhas-me?
Vozes de crianças. Discorrem-lhes lágrimas dos rostos.
- Beatriz -
Entre papéis, palavras, raciocínios relacionais e conclusões-luz, que tal, para desanuviar, uma gravação inspirada, música que toca, para o meu amigo Alexandre? Music is food for soul… Apetecia-me agora encher-te de beijos – dizes. Mais uma vez, dizes. Acabaram-se os cigarros. Transformo as garras em roxo escuro. Danço como o demónio. Porque tudo nos influencia. Tenho fobia do desconhecido um medo irracional apodera-se dos meus músculos… e barulhos acústicos apaziguam a alma, aproximam-se borboletas.
Isso implica que tenha de me vestir? E não me apetece.
Comovem-me poucas coisas.
- Carlos & Beatriz –
Lês um artigo de um psiquiatra, que admiras, e começas a falar alto (fazes sempre isso), sem saber se te quero ouvir, interrompes-me - mesmo que eu não queira – maldita habituação, que vem de mansinho e que se instala – parasita - adoece-nos aos poucos, anestesia comoções e aniquila-o-que-nos-uniu.
Oiço-te vociferar com entusiasmo: “somos um primata imaturo, o mais desprotegido da natureza. só não desaparecemos porque colaboramos uns com os outros. no dia em que a sociedade de consumo nos converter em indivíduos robô, corremos o risco de perder esta corrida.
deixamo-nos hipnotizar pelo poder dos media e transportamos essas referências para a nossa realidade. e se há uns tempos as pessoas partilhavam a atenção em torno dos grupos e das famílias, hoje concentram-se nas tecnologias individuais – têm o seu próprio televisor, computador, telemóvel, blogue – e perdem a dimensão dos outros.
aparecem-me pessoas com crises de identidade e concepções ilusórias da vida. a evolução dos papéis sociais tem conduzido ao desencontro entre homens e mulheres.”
Olhas para mim e eu continuo distante. Gostei tanto do que escolheste para mim – fazes sempre isso – mas não consigo dar-te brilho depois de tanto silêncio planeado.
Apesar de tudo, continuas a ter tantos encantos particulares neste pálido viver.
Eu, na minha secretária, entretido com a Internet - primata imaturo e manipulado - pode ser que hoje consiga marcar um encontro com a mulher que não lê alto, e me peça “dança comigo esta noite?”,
que me entenda sem me criticar, que saiba latim e durma até tarde
quem sabe, viajar e ter aventuras?
pode ser que me traga – sem eu esperar – um bacalhau com natas, do meu restaurante favorito, quando tudo o que menos me apetece é ouvi-la rabujar porque ainda não fiz o jantar,
quem sabe,
uma mulher, que com o passar dos anos, ficará como tu?
Publicado por Eva Jasmim às quarta-feira, fevereiro 06, 2008 0 comentários
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
“O principal na vida é o sofrimento, e embora não
seja este o seu verdadeiro sentido, o que nos faz
diferentes é basicamente a nossa capacidade
para o suportar…, ou para o afastar de nós.”
Palavras de Truman Capote citadas por Gerald Clark
no livro “Truman Capote. A biografia.”
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, fevereiro 01, 2008 0 comentários
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