Leila NAvarro
24 de Fevereiro de 2007
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 1 comentários
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 1 comentários Referência: Fevereiro de 2007
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 0 comentários Referência: Janeiro de 2007
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 2 comentários Referência: Dezembro de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 1 comentários Referência: Dezembro de 2006
Nenhum sinal vermelho fez parar o frágil carro.
Almoço feito à pressa, intervalado em telefonemas e amizades. O banho depois de muito suor. Percorrer, em sofreguidão, a distância que permitiu eliminar todas as toxinas, de uma noite de exageros. Foi uma noite bonita, apesar de tudo.
A música povoa aquele confinado espaço, junto com o odor de cigarros de ontem e de outro dia e de hoje - agora.
Perdi a pressa desde que me imaginei sem ti. Respirei como não respirava desde que vim dos Açores. Chegar à plenitude de um fôlego profundo... Respirar bem é um privilégio.
Hoje ninguém me aborreceu. Houve um momento de leveza. Sem carroças e animais. Sem cancelas. Até o piso parecia estar bom.
Desta janela de um comboio vejo-te todos os dias. Trazes óculos de sol (mesmo que chova), mudas incessantemente todas as músicas entre as milhares apenas gostas de cinco. Metes batom e tira-lo de seguida. Hoje não tens pressa. Pressa para quê?
Permite-me que te diga: és muito mais importante do que pensas!
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 1 comentários Referência: Dezembro de 2006
porque me tratas mal quando precisas de mim?
para que não notes que preciso...
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 1 comentários Referência: Dezembro de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sábado, março 03, 2007 0 comentários
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 0 comentários Referência: Dezembro de 2006
Aconteceu... E por me teres feito cego
Recordo o sabor da tua pele
E a calor de uma tela
Que pintámos sem pensar.
Ninguém perdeu,
E enquanto o ar foi escuro
Despidos de passados
Talvez de lados errados Conseguiste me encontrar.
Foi dança
Foram corpos de aço
Entre trastes de guitarras
Que esqueceram amarras
E se amaram sem mostrar.
Foi fogo
Que nos encontrou sozinhos
Queimou a noite em volta
Presos entre chama à solta
Presos feitos para soltar...
Estava escrito
E o mundo só quis virar
A página que um dia se fez pesada
E o suor
Que escorria no ar
No calor dos teus lábios
Inocentes mas sábios...
No segredo do luar.
Não vai acabar
Vamos ser sempre paixão
Vamos ter sempre o olhar
Ao nível de ninguém
Dei-te mais...! valeu a pena voar...
Estava escrito
E a noite veio acordar
A guerra de sentidos travada num céu
Nem por um segundo largo a mão
Da perfeição do teu desenho
E do teu gesto no meu...
Foi como um sopro estranho... ...e aconteceu...
És fogo em mim,
És noite em mim.
És fogo em mim...
(Toranja)
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Novembro de 2006
Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas –
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Antes do amanhecer tens um sonho que te leva para um lugar exótico e longínquo. Passeias perto do mar e sentes o calor do fim de dia a embater-te no corpo inteiro. Sentes um leve arrepio, um misto de calor e frio. O cheiro a maresia completa este cenário. Respiras bem fundo, como quando eras criança. Enches os pulmões. Expiras num só fôlego. Sentes-te. Sentas-te. Contemplas o horizonte. O pôr-do-sol. O fim do dia. O instante mais tranquilo – o fim do dia… Os tons conjugam-se harmoniosos.
Os lençóis estão lavados, perfumados e brancos. O cheiro a pão, que sai agora do forno, perfuma o ar, em cima da mesa, uma tigela com doce de figo.
Vou-te buscar retratos deste e daquele momento. Apontas e dizes “momentos felizes”. Enquanto mos mostras, vejo uma criança sorrir para mim. Olha-me e ri. Olha-me nos olhos, conquistei a sua atenção. Olhar para mim fê-la sorrir.
O meu corpo é leve, Martim. Flutuo. Respiro bem, sem formigueiros. Aproveito este instante. Em breve não estarei aqui. Recordo contigo aqueles retratos, aqueles que reproduzem o momento perfeito, o momento em que as pessoas que amavas estão a sorrir, bonitas, bem dispostas e alegres. Onde os seus olhares e feições expressam com exactidão o que as invade - a felicidade de estarmos aqui.
I
A espera silenciosa encerra os dias e noites. Cumplicidade, unicidade e perfeição. Acredito na perfeição. Se desde sempre a referiam como enfadonha, hoje posso dizer que a sinto a cada sorriso mágico que esboças, a cada passo que dou contigo, a cada vez que te encontro.
Martim, o que se destaca em ti é o teu fascinante carácter «tranquilo», o teu ar ingénuo e sonhador. Sempre te disse isso.
Mas aqui, um girassol brota de um vaso que tem forma de semente. Um girassol que foi incapaz de trepar da terra seca. Arranquei-o, tratei dele e agora está forte e vigoroso.
Observo ainda dois corpos muito negros, negro opaco, sujo e usado, nas mãos de um vendedor do Senegal. É uma estátua de madeira e assemelha-se a dois rapazes.
Eu e tu. Eu e tu, Martim.
Sinto medo de errar. Surge outra vez. Perdoas-me, meu amor?
Percorre-me a alma com suavidade. Tenho sede de ti.
Naquela esplanada da Baixa disse-te o meu primeiro nome: André.
Disse-te ainda que estive a arrumar o sótão, que todos devíamos arrumá-lo pela ordem com que sentimos. E assim arrumei as prateleiras de uma estante complexa – a vida.
E tu, Martim, falaste dos teus anéis… Os anéis que tinhas partiam-se sempre que arrumavas as compras do supermercado. Olhavas incrédulo e sentias um arrepio vazio… não fosse a restante metade desintegrar-se também. Assim, pousava-la cuidadosamente em cima da tua mesa de azulejo açoriano, como se da tua alma se tratasse: pequena, só, partida em mil pedaços, perdida.
Aqui e agora ganho coragem. Estou em casa, olho para um monte de folhas rabiscadas: apontamentos de psiquiatria. É o que diz na lombada do arquivo.
Quantos casos serão como o nosso?
Quantos, Martim?
II
Consigo sentir-me sozinho estando perto de ti. Uma solidão gritante. Um silêncio perturbador. Não estás comigo, Martim.
Falei-te que o meu actual emprego é diferente do último. Trabalho numa papelaria de bons artigos. Todos sabem e conhecem o sítio onde trabalho. Orgulho-me de lá trabalhar.
És a minha inspiração, quando decoro a montra. Todos a elogiam, talvez porque ninguém goste de fazer este trabalho. E sinceramente, não ficou nada de especial… Bajulam-me, só para que seja sempre eu a fazê-lo.
Ao contrário de mim, ninguém sabe onde tu realmente trabalhas e o que realmente fazes. Eu imagino-te num laboratório, de bata branca, a investigar física nuclear.
Outros vêem-te vaguear por estas ruas. Outros consideram-te alguém com problemas relacionados com o álcool.
Perguntas-me se tens um problema. Perguntas-me sempre isso no dia da ressaca. No dia a seguir à intoxicação pela única substância que te faz parar os pensamentos, aos que chamas, em tom inflamado: “perturbadores, malditos, insistentes!”.
Embriagas-te de ti mesmo.
Provavelmente no próximo “duelo de bebidas” (como lhe costumavas chamar), vou abandonar-te…Tal como tu te abandonas a cada vez que te embriagas e não consigo segurar o teu corpo e levar-te para casa. A cada vez que tento abrir a porta do teu prédio e não consigo (porque só tu sabes o truque) e aguardo, sentado horas a fio, pela chegada da tua sobriedade.
Olho para ti nesse instante e, por detrás dos teus óculos partidos e sujos, vejo uns olhos pequenos e míopes – os olhos de uma criança assustada a gritar: “por favor, salva-me!” (mas não o consegues dizer de tão bêbedo que estás). Vejo-te de novo cair na calçada, caído onde já te levantei vezes e vezes sem conta…
Sim, tu …perdido, outra vez.
III
Imagino a minha psicóloga sempre a sorrir. Já lhe disse que só de imaginá-la fico bem disposto. Já lhe disse que me faz sorrir.
Descrevo-lhe, em poucas palavras, os medos que tenho.
O medo de ser despedido outra vez está a ser ultrapassado. Neste emprego trabalho só com mulheres. Gosto especialmente da Constança. Usa óculos, ajuda-me e nunca a vi expressar um olhar recriminatório. Não tem olhos críticos e não mente. Aqueles olhares que a minha psicóloga diz “verem-se ao longe”, infelizmente tão usuais na sociedade terrivelmente preconceituosa em que vivemos.
Gosto de trabalhar com pessoas bem dispostas e humildes. Detesto peneiras.
Quanto ao medo de voltar a ser espancado pelo meu irmão ou pelo meu pai, disse à psicóloga que se esfuma com o passar dos dias. Saíram de casa os dois por minha causa. Dizem que sou delinquente.
As minhas duas irmãs e cunhados deixaram de me convidar para a passagem de ano e nem sequer me chamam para tirar fotografias junto deles. Estão sentados num bar atrás de mim e fingem não me conhecer. Mas a minha mãe está comigo. Vivemos os dois num apartamento de um bairro no centro da cidade. Antigamente era o bairro da droga. Agora já não e nós permanecemos lá. Só os miúdos barulhentos, após o ritual de fumar charros, perturbam o nosso sono. E o teu?
Vives tão perto de mim.
O meu medo és tu.
IV
Desenho uma flor. Não conheço nenhuma igual a esta. Insisto no seu contorno. Contemplo-a e o olhar desprende-se, fica difuso e acalmo-me. Desenho sempre uma flor. A mesma flor. A flor que nunca vi. A flor que não existe. A flor frágil, na qual vejo o teu olhar iluminado pela luz e chama de uma vela…
Aquele olhar.
Só teu.
O teu.
Naquele que dizias, só olhando para mim, como era importante para ti.
Sou feliz quando imagino o teu corpo, quando adormeces, sorris e sonhas. Vejo-te. Dormes tranquilo. Tu foste a felicidade. Sabias?
V
Na praia da ilha de Tavira reservo a mesa, que considero mais harmoniosa. Encomendo uma garrafa de champanhe doce e margaridas vermelhas perfumadas.
(Só espero que o mar traga tantas brisas quanto os meus suspiros, meu amor)
Sou irremediavelmente sensível.
Espero que gostes deste momento. Estou nervoso. Aqui faz tanto frio.
Lembrei-me de velas. Que achas de velas? Tenho milhares. Gosto de coleccioná-las. E este é o jantar das nossas vidas. Quero dar-te o melhor. Se não o fizer, vai perder-se dentro de mim.
Talvez leve a minha camisa preta. Tem a vantagem de me tornar mais elegante. Tu, preferes a azul porque é a mais discreta, dizes enquanto te vestes.
Tudo não passará de segundos vividos como se não houvesse amanhã.
Sou irremediavelmente feliz.
Quero fazer-te feliz. Basta tu quereres.
VI
Este amanhecer inspira-me e traz-me saudade de ti.
O teu amanhecer, hoje também foi diferente. Imagino-te ainda a dormir e os compromissos ficaram entregues ao sonho que tens neste instante. Acordarás um pouco desorientado, com um olho meio fechado e outro meio aberto (que lindos olhos tu tens!). Acordarás pronto para mais um dia de contactos sociais, de sorrisos, de planos, de conversas ao telefone, encontros em cafés e troca de ideias. Em certos momentos não te conheço bem (em muitos momentos, aliás). Em tempos preocupaste-me, mas essa nuvem negra foi desaparecendo e com ela aprendeste. Foste aprendendo que a vida é um bem precioso…
Ficas comigo?
O teu sorriso abre uma porta para o paraíso, o teu sorriso alegra na tristeza e dá tranquilidade à confusão. O teu sorriso é puro e verdadeiro, como a tua alma mundo que te rodeia é mais humano porque fazes parte dele, porque contribuis para a preservação da natureza e ensinas todos a fazê-lo. Adoras animais, adoras as coisas simples. Adoras um sorriso sincero e aberto. Adoras beber café e apreciar o sol a brilhar. Aprecias a arte que te envolve. Adoras focar o pormenor das expressões humanas e dar-lhe um significado. Registas com a tua companheira cúmplice máquina fotográfica, retratos da tua sensibilidade, em focos precisos de um gesto ou paisagem ou simples escaravelho a tentar procriar.
Adoras arte, adoras respirar e sentir paz.
És simplesmente doce.
Falas pouco acerca do que sentes, no entanto, és um ouvinte incondicional; ouves e ajudas, ouves e aconselhas, conselhos sábios e instintivos. A felicidade do outro é, sem dúvida, também a tua.
Fica comigo, Martim.
VII
- "Trás ingredientes para a tarte de cereja!" – disseste-me.
A agitação interior surgiu no instante em que o trabalho terminou e te telefonei. Fui ao supermercado. Antes de toda esta realidade, o desejo invadia-me a alma, o desejo de estar junto de ti. Foram alguns dias de espera silenciosa. Dia após dia. Noite após noite, encerradas pela leitura.
Aquela sensação de que "a hora está a chegar", provoca ansiedade e uma enorme vontade de aproveitar cada segundo, cada momento, cada gesto e sorriso. É como a ideia como deveríamos encarar a morte, que esta dá sentido à vida e deveria permitir-nos relativizar os problemas e a velha máxima concretiza-se aqui: a vida é bonita quando é simples. Assim, aproveitamos cada momento como se fosse a primeira vez.
(Tu sabias que era o último).
Inconscientemente festejamos o amor que nos uniu desde o primeiro olhar.
-“Tens de comprar base para a tarte, ou massa folhada ou quebrada. A que horas chegas? Queres que guarde o jantar para ti? “.
Eu observei aquele abraço através dos meus olhos verdes. Sorri abertamente. Observei-os com doçura. Abraçaram-se de forma tão forte e apaixonada que continuei a sorrir; pensei "gostam mesmo um do outro" (via-se no brilho dos vossos olhos). O abraço durou pouco para a imensidão da saudade que sentiam. Depois foi o pisar da realidade.
Subiram para jantar. Houve troca de olhares de pura admiração.
Deram uma caminhada ao sabor do luar.
-"Martim, este é o céu mais estrelado que já vi. É imenso!”, disse.
Eu aguardava-os.
Os grilos cantavam no escuro, o vento embatia suavemente nas minhas folhas. Quando me tocaram, disseram: "aqui não tem nada, temos que trepar a rede". Assim, dentro de segundos, agarraram-se a mim e conjuntamente colheram os meus frutos. Observei-os e vi-os sorrir, confidenciavam sobre as infâncias e brincadeiras comuns.
-"Estas cerejas são pequenas, muito vermelhas e saborosas".
Tirou os caroços e criou um montinho para depois o colocar sobre a base da tarte. Misturou quatro gemas, dois dl de natas, 150 gr. de açúcar e um iogurte de morango. Foi ao forno.
-"Olha ali, está tão bonita! Eles amanhã vão deliciar-se."
O sono.
O amanhecer alucinante. A rapidez de movimentos para chegar à hora marcada. Má disposição.
-" Está uma delícia, quem fez?" – perguntaram todos.
- "O André fez o recheio, eu a base", disseste com orgulho.
Naquela tarde, invadiu-nos uma plena sensação de paz. Deitados na rede, contemplei todos os teus gestos. Ri-me feliz, pousei a face na mão e sonhei.
Quis agarrar uma folha e caneta, não as encontrei, mas ficou gravado na memória.
Rapidamente o exterior deu conta de mim. Queria prolongar tal beleza…
O mau humor convertera-se em bom humor, dando lugar a abraços meigos. De imediato, os olhos vislumbravam tudo de forma mais colorida. Invadiram-nos de forma rápida e inesperada o coração e, consequentemente, a visão bonita de tudo em nosso redor. Parecia magia. É inexprimível.
Anoiteceu.
No monte estava tudo muito calmo, sereno e agradável.
A rede balançava. Ficou mais pesada com os nossos corpos.
Abri os olhos e vi flores. As estrelas. O calor da noite. Fechei os olhos e sorri feliz.
Sonho com tudo e com nada.
Que amanhecer delicioso e bem disposto! Através do silêncio, mil palavras foram ditas de encontro ao amor, de novo, outra vez.
Depois… Depois vem o contacto com paisagens virgens e nunca vistas. Flores familiares com odores que recordam as brincadeiras de quando éramos crianças. O tempo passou sem darmos conta, através de cumplicidades inconfessáveis, indescritíveis e que nos tornam tão especiais.
Já sinto a tua falta.
VIII
Abriste rápido.
Terá sido o desejo ou o nervosismo?
Olho para ti e nunca sei se estás a sorrir verdadeiramente ou se é um tique, movimento involuntário, que expressas de forma inconsciente. Quando me vês ris? Quando te vejo sorrio. Vejo em ti a espontaneidade e pureza que não tenho. As amarras, a que estou preso num quotidiano repetido, permitem-me, paralelamente ao teu sorriso aberto, sentir que hoje sou livre. Estás na minha mente. Hoje procuro inspiração em ti. Aliás, era importante que a fosses para todos. Sabes porquê? Eu digo. Ouves uma música na rádio, gostas dela e qual é o teu primeiro ímpeto? Dançar. Estejas onde estiveres, com quem estiveres; seja no consultório ou a ver o e-mail, seja a almoçar em família ou no restaurante, seja no banho ou no supermercado…danças e balanças sem fim. Vem de dentro de ti a "música do coração".Danças sem pudor, sem preconceitos, como se não houvesse mundo em teu redor. E eu?
Eu observo-te e tento acompanhar-te. Gesticulo timidamente. Olho desconfiado a multidão e penso que todos devíamos ser como tu: puro. Hoje vens um pouco triste. Meto conversa contigo e tu, encolhido, apenas olhas para mim. O que tens? – Pergunto, preocupado. Respondes que não consegues contrariar a passagem do tempo. Envoltos pelo silêncio perturbador, deixo-te reflectir. Tento entender o teu olhar. Não sei descrevê-lo. Desculpa-me. Partes sem dizer nada, e se eras libertação e espontaneidade outrora, hoje representas a prisão dos meus movimentos. Temos pouco tempo para estar aqui. É necessário este trajecto para que um dia possas entender que no teu silêncio, outrora cálido e reconfortante, existem agora palavras sem eco, sem sentido, confusas. Deixaste-me. Deixaste-me aqui, preso ao tempo de ilusões sem cor. Deixaste o teu rasto e energia. Eras incansável. Sabias?
Onde estás?
Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac.
É este o som que dizias ouvir sem fim dentro de ti e que, a cada passo que davas, querias pará-lo. Dizias-me em agonia que, dia após dia, estavas farto de tudo… e que tudo tinha um fim… e que nada era eterno…e que a morte era a tua vida…Estás a tremer.
- "Acabou" – dizes-me Deixaste de me ouvir e agora está tudo mais calmo.
Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac.
Ecoam em ti os ponteiros da vida. Na brevidade de mais um momento, toco na tua garganta e sinto o teu coração bater mais lento (como o ponteiro dos segundos) e nesse segundo, nesse preciso segundo parou...
Antes de morrer, sussurraste ao meu ouvido, muito baixinho: - "Ouvi dizer que a morte está escondida nos relógios, André".
Eva Jasmim
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 3 comentários Referência: Novembro de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 3 comentários Referência: Outubro de 2006
Contaste-me tantas coisas que preferia não saber.
Olhaste-me nos olhos e começaste a falar. Que o teu nome era Guida e que o teu maior sonho, desde pequenina, era teres um quarto com janela. Provinhas de uma família pobre e a tua casa era um moinho. Foi lá que nasceste. A tua mãe fugia às escondidas, por entre milheirais, abraçava o teu pai e foi nesse momento, sob o pó da farinha e grãos de trigo ou outros cereais, por meio desse amor, que foste concebida. Tens muitos irmãos.
O teu pai gostava do teu cabelo comprido percorrido pelo vento e que vestisses camisolas de gola alta e calças de ganga. Sempre que podias levavas-lhe rebuçados, ele adorava rebuçados.
Desde que ele desapareceu que o imaginas sempre a chegar, estejas onde estiveres.
Depois de saberes que morrera que nunca mais conseguiste comer sem o pensamento de que ele "terá morrido à fome" e, assim, paras de comer...
Não soube o que te dizer. O que se diz numa situação destas?
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 3 comentários Referência: Outubro de 2006
Cravaste as garras. Feriste as feridas que sangravam. Dor aguda. Insuportável.
Perfuravas profundamente a alma e corpo… o corpo e a alma... Vezes sem conta, espinho maldito.
A primeira vez que perdeste forças deixei-te ficar junto a mim. Cicatrizes que foste deixando aqui e ali.
Cravas as garras doentiamente. Cravas mais fundo e, em círculos, remexes para doer mais.
Presas fáceis. Tão fáceis que as matas por dentro.
Não passas de um simples espinho que agarrado fortemente se quebra e se desfaz em mil pedaços – uma insignificância.
Um simples espinho que arranquei e deitei para fora.
Olho-te e brota de ti o teu último sinal de vida – um simples prurido.
O meu tronco onde permanecias (como um parasita) está mais bonito do nunca: está forte, luminoso e cheio de vigor.
Acabaram-se os espinhos.
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 2 comentários Referência: Setembro de 2006
Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
I
A espera silenciosa arrasta os dias e noites em partilha de confidências. Cumplicidade, unicidade e perfeição, é o que sinto nesses instantes. Acredito na perfeição. Se desde sempre a referiam como enfadonha, hoje posso dizer que a sinto: a cada sorriso mágico que esboças, a cada passo que dou contigo, a cada vez que te encontro.
O que se destaca em ti é o teu fascinante carácter «tranquilo», o teu ar ingénuo e sonhador. Sempre te disse isso.
Mas aqui, um girassol brota de um vaso em forma de semente, foi incapaz de trepar a terra seca.
Observo ainda dois corpos muito negros, negro opaco sujo e usado, na mão de um vendedor do Senegal. Assemelham-se a dois homens.
Eu e tu. Eu e tu, Martim.
Sinto medo de errar. Surge outra vez. Perdoas-me, meu amor?
Ontem estavas vestido de monge. Fingi não te ver. O capuz retirava-te a expressão linda que costumas irradiar.
Percorre-me a alma com suavidade. Tenho sede de ti.
Disseste que estiveste a arrumar o teu sótão. Que todos devíamos arrumá-lo de vez enquanto. Arrumaste as prateleiras de uma estante complexa – a tua vida.
E os anéis… Os anéis que tinhas partiam-se sempre que arrumavas as compras do supermercado. Olhavas incrédulo e sentias um arrepio vazio… não fosse a restante metade desintegrar-se também. Assim, pousava-la cuidadosamente em cima de uma mesa de granito e azulejo açoriano (como se da tua alma se tratasse). Pequena. Só. Perdida.
Ganho coragem. Olho para um monte de folhas rabiscadas: apontamentos de psiquiatria. É o que diz na lombada do arquivo.
Quantos casos serão como o nosso?
Quantos, Martim?
II
Consigo sentir-me sozinho estando perto de ti. Uma solidão gritante. Um silêncio perturbador. Não estás comigo.
O meu emprego é diferente do último. Trabalho numa papelaria de bons artigos. Todos sabem e conhecem o sítio onde trabalho. Orgulho-me de lá trabalhar.
És a minha inspiração quando decoro a montra. Todos a elogiam, talvez porque ninguém gosta de fazer este trabalho. E sinceramente, não ficou nada de especial… Bajulam-me só para que seja sempre eu a fazê-lo.
Ao contrário de mim, ninguém sabe onde tu realmente trabalhas e o que realmente fazes. Eu imagino-te num laboratório, de bata branca, a investigar física nuclear.
Outros consideram-te alguém com problemas relacionados com o álcool.
Perguntas-me se tens um problema. Perguntas-me sempre isso no dia da ressaca. No dia a seguir à intoxicação pela única substância que te faz parar os pensamentos, aos que chamas e gritas em tom inflamado “perturbadores malditos e insistentes”.
Embriagas-te de ti mesmo.
Provavelmente no próximo “duelo de bebidas”, como lhe costumavas falar, vou abandonar-te… Tal como tu te abandonas em cada vez que bebes e não te consigo segurar e levar para casa, a cada vez que tento abrir a porta e não consigo (porque só tu sabes o truque) e aguardo, sentado horas a fio pela chegada da tua sobriedade.
Olho para ti triste. Muito triste.
Por detrás dos teus óculos partidos e sujos, vejo os olhos de uma criança assustada e gritas: “por favor, salva-me” (mas não o consegues dizer de tão bêbedo que estás). Vejo-te de novo cair na calçada, caído onde já te levantei vezes e vezes sem conta…
Sim, tu …perdido.
III
Imagino a minha psicóloga e vejo-a sempre a sorrir. Já lhe disse que só de imaginá-la fico bem disposto. Já lhe disse que me faz sorrir.
Descrevo-lhe em poucas palavras os medos que tenho.
O medo de ser despedido outra vez está a ser ultrapassado. Neste emprego trabalho só com mulheres. Gosto especialmente da Constança. Usa óculos, ajuda-me e nunca a vi expressar um olhar recriminatório. Não tem olhos críticos e não mente. Aqueles olhares que a minha psicóloga diz “verem-se ao longe”.
Gosto de trabalhar com pessoas bem dispostas e humildes. Detesto peneiras.
Quanto ao medo de voltar a ser espancado pelo meu irmão mais velho ou pelo meu pai, esfuma-se com o passar dos dias. Saíram de casa, os dois, por minha causa. Dizem que sou um vândalo.
As minhas duas irmãs e cunhados deixaram de me convidar para a passagem de ano e nem sequer me chamam para tirar fotografias junto deles. Estão sentados num bar atrás de mim e fingem não me conhecer. Mas a minha mãe está comigo. Vivemos os dois num apartamento de um bairro no centro da cidade. Antigamente era o bairro da droga. Agora já não. Mas eu permaneci. Só os miúdos são barulhentos, após ritual de fumar charros, conseguem perturbar o meu sono. E o teu?
Vives tão perto de mim.
O meu medo és tu.
IV
Desenho uma flor. Não conheço nenhuma igual a esta. Insisto no seu contorno. Contemplo-a e o olhar desprende-se, fica difuso e acalmo-me. Desenho sempre uma flor. A mesma flor. A flor que nunca vi. A flor que não existe. A flor em que vejo o teu olhar, que expressavas tão unicamente, iluminado pela luz de uma vela, intercedido pela chama, projectada no meu olhar...
Aquele olhar. Só teu. O teu.Naquele que dizias...Só olhando...Como era importante para ti
Sou feliz assim. Sabias, André?
Sem ti.
Sou feliz quando imagino o teu corpo, quando adormeces sorris e sonhas. Vejo-te agora. Dormes tranquilo. Tu foste a felicidade. Sabias?
V
Na praia da ilha de Tavira reservo a mesa que considero mais harmoniosa. Encomendo uma garrafa de champanhe doce e margaridas vermelhas perfumadas.
(Só espero que o mar traga tantas brisas quanto os meus suspiros, meu amor)
Sou irremediavelmente sensível.
Espero que gostes deste momento. Estou nervoso. Aqui faz tanto frio.
Lembrei-me de velas. Que achas de velas? Tenho milhares. Gosto de coleccioná-las. E este é o jantar das nossas vidas. Quero dar-te o melhor. Se não o fizer, vai perder-se dentro de mim.
Talvez leve a minha camisa preta. Tem a vantagem de me tornar mais elegante e mais misterioso. Tu preferes o azul porque é uma cor discreta, dizes enquanto te vestes.
Tudo não passará de segundos de prazer, vividos como se não houvesse amanhã, como só nós sabemos viver.
Sou irremediavelmente feliz.
Quero fazer-te feliz. Basta tu quereres.
VI
Este amanhecer inspira-me e traz-me saudade de ti. O teu amanhecer hoje também foi diferente, imagino-te ainda a dormir, os compromissos ficaram entregues ao sonho que tens neste instante. Acordarás um pouco desorientado, com um olho meio fechado e outro meio aberto (que lindos olhos tu tens!). Acordarás pronto para mais um dia de contactos sociais, de sorrisos, de planos, de conversas ao telefone, encontros em cafés e troca de ideais. Em muitos momentos não te conheço bem, em muitos momentos, aliás... em tempos preocupaste-me, mas essa nuvem negra foi desaparecendo e com ela aprendeste. Foste aprendendo que a vida é um bem precioso…
Ficas comigo?
O teu sorriso abre uma porta para o paraíso, o teu sorriso alegra na tristeza e dá tranquilidade à confusão. O teu sorriso é puro e verdadeiro, como a tua alma. O mundo que te rodeia será mais feliz porque fazes parte dele, porque contribuis para a preservação da natureza e ensinas todos a fazê-lo. Adoras animais, adoras as coisas simples. Adoras um sorriso sincero e aberto. Adoras beber café e apreciar o sol a brilhar, apreciar a arte que te envolve. Adoras focar o pormenor das expressões humanas e dar-lhes um significado. Registas com a tua companheira cúmplice, retratos da tua sensibilidade, em focos precisos de um gesto ou paisagem, ou simples escaravelho a tentar procriar. Adoras a arte, adoras respirar e sentir paz.
És simplesmente doce. Falas pouco acerca do que sentes, no entanto, és ouvinte incondicional; ouves e ajudas, ouves e aconselhas; conselhos sábios e instintivos. A felicidade do outro é, sem dúvida, também a tua.
Fica comigo, Martim.
VII
- "Trás ingredientes para a tarte de cereja!" – disseste.
A agitação interior surgiu no instante em que o trabalho terminou e te telefonei. Fiz previsões. Fui ao supermercado. Antes de toda esta realidade, o desejo invadia-me a alma, o desejo de estar junto de ti. Foram alguns dias de espera silenciosa. Dia após dia. Noite após noite, encerrada pela leitura. Aquela sensação de que "a hora está a chegar", provoca ansiedade e uma enorme vontade de aproveitar cada segundo, cada momento, cada gesto e sorriso. É como a ideia com que deveríamos encarar a morte, que esta dá sentido à vida e deveria permitir-nos relativizar os problemas, onde a velha máxima se concretiza aqui, a vida é bonita quando é simples. Assim, aproveitamos cada momento como se fosse a primeira vez.
(Tu sabias que era o último).
Inconscientemente festejamos o amor que nos uniu desde o primeiro olhar.
-“Tens de comprar base para a tarte, ou massa folhada ou quebrada. A que horas chegas. Queres que guarde o jantar para ti? “.
Eu observei aquele abraço através dos meus olhos verdes. Sorri abertamente. Observei-vos com doçura. Abraçaram-se de forma tão forte e apaixonada que continuei a sorrir, pensei "gostam mesmo um do outro", via-se no brilho dos vossos olhos. O abraço durou pouco para a imensidão da saudade que sentiam. Depois foi o pisar da realidade.
Subiram para jantar. Houve troca de olhares. Pura admiração.
Deram uma caminhada ao sabor do luar.
-"Este é o céu estrelado mais bonito que já vi, é imenso”, disse.
Eu aguardava-os.
Os grilos cantavam no escuro, o vento embatia suavemente nas minhas folhas. Quando me tocaram, disseram: "aqui não tem nada, temos que trepar a rede". Assim, dentro de segundos, agarraram-se a mim e conjuntamente colheram os meus frutos. Observei-os e vi-os sorrir, confidenciavam sobre as infâncias e brincadeiras comuns.
-"Estas cerejas são pequenas, muito vermelhas e saborosas".
Tirou os caroços e criou um montinho para depois o colocar sobre a base da tarte. Misturou quatro gemas, dois dl de natas, 150 gr. de açúcar e um iogurte de morango. Foi ao forno.
-"Olha ali, está tão bonita! Eles amanhã vão deliciar-se."
O sono.
O amanhecer alucinante. A rapidez de movimentos para chegar à hora marcada. Má disposição.
-" Está uma delícia, quem fez?" – perguntaram todos.
- "Ele fez o recheio, eu a base", disseste com orgulho.
Naquela tarde invadiu-nos uma plena sensação de paz. Deitados na rede, contemplei todos os teus gestos. Ri-me feliz, pousei a face na mão e sonhei.
Quis agarrar uma folha e caneta, não as encontrei, mas ficou gravado na memória.
Rapidamente o exterior deu conta de mim. Queria prolongar tal beleza…
O humor convertera-se em bom humor, dando lugar a abraços meigos. De imediato, os olhos vislumbravam tudo de forma mais colorida. Invadiram-nos de forma rápida e inesperada o coração e, consequentemente, a visão bonita de tudo em nosso redor. Parecia magia. É inexprimível.
Anoiteceu.
No monte estava tudo muito calmo, sereno e agradável.
A rede balançava. Ficou mais pesada com os nossos corpos entrelaçados.
Balançou na direcção do prazer.
Abri os olhos e vi flores. As estrelas. O calor da noite. Fechei os olhos e sorri feliz.
Sonho com tudo e com nada.
Que amanhecer delicioso e bem disposto! Através do silêncio, mil palavras foram ditas de encontro ao amor, de novo, outra vez.
O toque carinhoso na barriga.
Depois… Depois vem o contacto com paisagens virgens e nunca vistas. Flores familiares com odores que recordam as brincadeiras de quando éramos crianças. O tempo passou sem darmos conta, através de cumplicidades inconfessáveis, indescritíveis e que nos torna tão especiais.
Já sinto a tua falta.
VIII
Abriste rápido.
Terá sido o desejo ou o nervosismo? Olho para ti e nunca sei se estás a sorrir verdadeiramente ou se é um tique, movimento involuntário, que expressas de forma inconsciente. Quando me vês ris? Quando te vejo sorri-o. Vejo em ti a espontaneidade e pureza que não tenho. As amarras a que estou preso num quotidiano repetido permitem-me, paralelamente ao teu sorriso aberto, sentir que hoje sou livre. Estás na minha mente. Hoje procuro inspiração em ti. Aliás, era importante que a fosses para todos. Sabes porquê? Eu digo. Ouves uma música na rádio, gostas dela e qual é o teu primeiro ímpeto? Dançar. Estejas onde estiveres, com quem estiveres; seja no consultório ou a ver o e-mail, seja a almoçar em família, ou no restaurante, ou no banho ou no supermercado…danças e balanças sem fim. Vem de dentro de ti a "música do coração".Danças sem pudor, sem preconceitos, como se não houvesse mundo em teu redor. E eu?
Eu observo-te e tento acompanhar-te. Gesticulo timidamente. Olho desconfiado a multidão e penso que todos devíamos ser como tu: puros. Hoje vens um pouco triste. Meto conversa contigo e tu, encolhido, apenas olhas para mim. O que tens? - Pergunto-te preocupado. Respondes que não consegues contrariar a passagem do tempo. Envolto por um silêncio perturbador, deixo-te reflectir. Tento entender o teu olhar. Não sei descrevê-lo. Desculpa-me. Partes sem dizer nada e se eras libertação e espontaneidade outrora, hoje representas a prisão dos meus movimentos. Temos pouco tempo para estar aqui. É necessário este trajecto para que um dia possas entender que no teu silêncio, outrora cálido e reconfortante, existem agora palavras sem eco, sem sentido, confusas. Deixaste-me. Deixaste-me aqui, preso ao tempo de ilusões sem cor. Deixaste o teu rasto e energia. Eras incansável. Sabias?
Onde estás?
Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac.
É este o som que dizias ouvir sem fim dentro de ti e, que a cada passo que davas, querias pará-lo.Dizias-me em agonia que, dia após dia, estavas farto de tudo… e que tudo tinha um fim… e que nada era eterno…e que a morte era a tua vida…Estás a tremer.
- "Acabou" – dizes-me Deixaste de me ouvir e agora está tudo mais calmo.
Tic-Tac.Tic-Tac.Tic-Tac.
Ecoam em ti os ponteiros da vida. Na brevidade de mais um momento, toco na tua garganta e sinto o teu coração bater mais lento (como o ponteiro dos segundos) e nesse segundo, nesse preciso segundo parou...
Antes de morrer, sussurraste ao meu ouvido, muito baixinho: - "Ouvi dizer que a morte está escondida nos relógios, Martim".
Andrea Lopes
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Setembro de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 4 comentários Referência: Agosto de 2006
Disseste-me que estiveste a arrumar o teu sótão. Que todos devíamos arrumá-lo de vez em quando.
Arrumaste as prateleiras de uma estante complexa - a tua vida.
Ao sabor dessa atitude encontras força para continuar e valorizar a tua simples existência.
Fico agora presa à ideia de Faíza, de que uma nudez "nada tem de erótico" e que deve ter nem que seja um trapinho, para ser sensual...
Ao fundo de uma mesa grande, um grupo de pessoas muito diferente, ouço a voz de um dos seus elementos. Estatura pequena tipo duende, careca e talvez com 60 anos. Levantou a mão e disse "eu não posso, não tenho como vir".
Desse grupo totalmente distinto, outro levanta a mão e timidamente intervém e diz: "apenas consigo ver dez por cento mas tenho uma vida repleta de experiências ricas. Como poderei mostrar-lhe, se não vejo?"
Porque muitos gostam de absorver a realidade observando. Eu faço o mínimo esforço – se o fizer ficarei em breve cego...
Mas vou pensar.
Num fim de dia confessaste-me que era desportista, empreendedora, sociável e rodeada de amigos. Essas eram as suas características essenciais. Faltava-lhe a entrega e devoção de uma amiga verdadeira - dizias. Faltava-lhe a calma e doçura de outra. Mas tinhas a indignação, a força e a sabedoria dela.
Realidades distintas em pessoas que querias unir, fundi-las num só ser. É a que vives e a que sonhas.
Parece-me engraçado, sabias?
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Julho de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Julho de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Julho de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 2 comentários Referência: Julho de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 0 comentários Referência: Junho de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 0 comentários Referência: Junho de 2006
Não tenho dois dedos. Uma máquina cortou-os enquanto polia mosaicos.
A minha mulher vê o demónio. Deita-se para o chão e envergonha-me.
Tornei-me alcoólico e se agora me perguntar o que faria se tivesse dinheiro, responderia “comprava comida”.
Ela foi ontem para o hospital. Não sei bem com o quê.
Pode ser que agora me arranjem emprego, a limpar valetas, na junta de freguesia. Pode ligar ao presidente e pedir-lhe. Não se importa?
O que tenho aqui foi o meu marido. Esta cicatriz grande. Vê aqui?
Foi com aquele objecto. Não sei como se diz. Aquele que o miúdos usam na escola para cortar papel.
A minha família incendiou-me a casa e levou todos os meus bens.
Hoje vivo com a minha mãe de 87 anos. Tenho um pequeno de oito.
A partir das 7 não há luz para ninguém. O menino tem medo. Que criança não tem medo do escuro? E se quer um iogurte, ela empurra a porta, entala-lhe a mão e diz “não podes comer, não é para ti”.
Vendo fruta de porta em porta e na praça também. O negócio está mau. E esta carrinha que vê, tenho de a pagar.
Dançar. É o que mais gosto de fazer. Ainda ontem gozei o sant'antónio numa “danceteria”. Tenho que me divertir.
Se ele vier cá para me matar, já lhe disse que o denuncio à televisão ou escrevo uma carta ao presidente da república.
Posso ligar-lhe na 4ª para lhe dizer se tenho ou não cancro?
Nunca sorrio. Porque se sorrio algo de mal me pode acontecer. Assim, decidi, não sorrio. Entende?
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 5 comentários Referência: Junho de 2006
Cor
Contraste
Opção
Equilíbrio
Norte
Diferença
Beleza
Amor
Ternura
Descanso
Arte
Sentido
Hora do comboio
Vizinhança
...Mudança
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 2 comentários Referência: Junho de 2006
Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é o que faz de nós seres tão refinados. Porque é que não nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça fazem nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Porque é que não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de cada separação, uma parte dos nossos corações fica desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que na busca do prazer.
Sigmund Freud, in 'As Palavras de Freud'
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Maio de 2006
Descrição da situação/experiência:
Estou em constante conhecimento de mim mesma. Em todas as situações de vida, um novo aspecto surge de mim mesma. Sou observadora, pensativa. De todas as situações por que já passei, boas ou más, houve sempre algo que aprendi e me levou para mais “perto de mim”... e dos outros.
Tenho também gosto por ler diversos livros na componente do Auto-conhecimento e área comportamental, que melhor me permitem conhecer a mim mesma e também ao outro.
Digo muitas vezes: “eu nasci para ajudar as pessoas”.
Privilegio o contacto com a natureza, onde muitas vezes reflicto sobre o que fiz, o que falta fazer, o que sou.
Aquilo que gostamos ou não gostamos, diz muito de nós, penso eu...
Amo o meu namorado.
Amo a minha família e amigos (que felizmente tenho muitos e verdadeiros).
Considero-me uma pessoa que gosta muito de ouvir o outro, criar empatia (meter-me na “pele do outro”), sou amiga atenta e preocupada, alimento as relações de amizade com frequência e amor, adoro estar com amigos e família, de sorrir, de me divertir, de ver um filme simples mas que me traga algo de novo, de ouvir música, de ir a concertos de música, sair à noite. Adoro ler e escrever. Adoro viajar com as pessoas que amo. Adoro comer e cozinhar. Ir ao cinema. Ajudar pessoas, dar-lhe carinho e atenção. Ser simpática e bem disposta (raramente estou triste). Penso que sou humilde, observadora, sensível, carinhosa, apaixonada, romântica, optimista, aventureira, empática… Os meus maiores defeitos são: algum conformismo, com pouco sentido de poupança, distraída, alguma ingenuidade (vejo sempre o lado bom das questões e das pessoas, e nem sempre o são). Adoro conversar, ir a esplanadas, ler o jornal, imaginar o que quero vou escrever. Adoro sentir que os que gosto estão felizes, reparo muito nas suas expressões. Gosto de fotografia e de rostos humanos. Para mim o olhar de uma pessoa é, sem dúvida, a sua alma. Gosto de amar e ser amada. Gosto de terminar o dia e dormir como quando era criança. Adoro a areia e o mar. Gosto de água e sol. Gosto de chá verde. Gosto de velhinhos. Gosto de café, cerveja abadia e champanhe asti gancia. Adoro surpreender e ser surpreendida. Gosto de aventura e cheiro a campo. Gosto de margaridas e rosas. Gosto do verde e azul.
Não gosto de ver pessoas tristes e sós. Não gosto de pessoas preconceituosas e que rotulam os outros logo no primeiro contacto. Não gosto de discussões. Não gosto de chuva e dias cinzentos. Não gosto de traições. Não gosto de me sentir incapaz de ajudar uma pessoa. Não gosto de pessoas "azedas", hipócritas e mal dispostas. Não gosto de ligar a televisão e só ouvir desgraças. Não gosto que me mintam…
E isto é só um pouquinho daquilo que sou.
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 4 comentários Referência: Abril de 2006
O chá verde dá mais energia do que a cafeína pura, a bebida faz crescer as taxas metabólicas e acelera a oxidação das gorduras. Os pesquisadores acreditam que a interacção entre a cafeína e outros componentes do extracto de chá verde aumenta as taxas de queima de gordura. Amigo do coração.
Benefícios Fisiológicos e Terapêuticos do Chá Verde (Camellia sinensis):
Segundo pesquisas científicas desenvolvidas na Ásia, Europa e América do Norte,
•Combate o envelhecimento precoce das células;
•Auxilia na regeneração da pele;
•Promove a longevidade saudável;
•Reduz o colesterol total e níveis de LDL (mau colesterol);
•Aumenta os níveis do HDL (bom colesterol);
•Reduz a pressão arterial;
•Actua como anticoagulante intravascular;
•Reduz o risco de enfarte do miocárdio;
•Reduz os riscos de AVC (derrame cerebral);
•Reforça os vasos sanguíneos;
•Reduz os riscos de vários tipos de cancro;
•Fortalece o sistema imunológico;
•Actua como anti-inflamatório e antigripal;
•Ajuda a dilatar os brônquios, facilitando a respiração dos asmáticos;
•Auxilia nos tratamentos de gripe, bronquite e pneumonia;
•Protege o sistema gastrointestinal de bactérias nocivas;
•Auxilia nos processos digestivos;
•Previne a formação de pedras na vesícula e nos rins;
•Ajuda a normalizar a função da tireóide;
•Previne cáries dentárias e gengivite.
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Abril de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 2 comentários Referência: Abril de 2006
Possivelmente o último do dia? Talvez. A não ser que as letras que lês envolvam em felicidade os pensamentos...
Nem os olhos riem.
Li o que é o amor. E está tão bem escrito...
As reticências do meu pensamento estão também aqui.
Foram dias em promoção da saúde mental. Ensinar? Motivar? Dominar os assuntos?
Acima de tudo: acordar com entusiasmo porque o dia era certamente iniciado de forma diferente. Personalidades tão distintas com tanta necessidade de atenção e disponibilidade...
Porque não me apetece sorrir agora vou partir. É apenas cansaço? Ou regressar, de novo, aos dias de há pouco tempo atrás? A verdade é que sei que não! Agora é apenas mais um fim de dia, e esse fim de dia é sempre muito idêntico, porque é assim que o transformo, em plena consciência... Posso escolher entre três fins diferentes: ver um filme, visitar irmã ou fazer o que faço sempre... já lhes enviei uma mensagem onde digo que "apetece-me simplesmente não fazer nada"... O engraçado é que o que me impeliu a esta decisão foram os olhos cansados, o desejo forte de chegar a casa e enfiar-me no meu casulo...Tão disponível umas vezes. Pelo amanhecer, quando as forças estão em consonância com o sol brilhantes e pássaros a cantarolar...E por vezes tão previsível e monótona...
"É sempre assim tão simpática e calma?"
"Não sei bem mas penso que sim"
Valeu mesmo a pena, ainda bem!
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 2 comentários Referência: Março de 2006
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 4 comentários Referência: Março de 2006
Deves pensar em trabalhar o teu interior visto que o exterior não está sob o teu controlo amor.
E deves pensar em mim.
Que te amo.
MUITO!
PARA SEMPRE!
E deves pensar nos momentos lindos que passámos.
E nos que ainda nos esperam...
Publicado por Eva Jasmim às sexta-feira, março 02, 2007 1 comentários Referência: Março de 2006
Hilariante!
Publicado por Eva Jasmim às quinta-feira, março 01, 2007 4 comentários Referência: Bozzetto, Fevereiro de 2006
Agora que partiram, soltei um grito de alívio, um grito em silêncio em que o globo ocular se distendeu e saiu para fora. É tão bom estar sozinha...
O perfume acompanha-me a cada segundo, sinto-o, aqui mesmo debaixo do nariz, Promesse da Cacharel... divino.
Levantei o som da música e olhei de soslaio, "estarei mesmo só?", incrédula.
É por isso que se adiarmos a gratificação tudo tem o dobro do sabor. Milan Kundera falava no acaso e disse que "os momentos que acontecem por acaso são os melhores". Talvez porque não os prevíamos e assim souberam a imprevisível e a inesperado...
Não tenho a certeza se terei feito a melhor escolha. Ontem e muitas vezes, desde que me lembro, acordo a ler palavras soltas e sem nexo, todas elas estão na minha cabeça mas quando encadeadas ficam sem significado. Estarão as palavras constantemente dentro da minha cabeça? Tento interpretá-las como um músico interpreta uma pauta. Parece descabido mas quando acontece sinto-me mais rica, invadida de sabedoria e parece que adivinho o que vem a seguir...
Enfim... (para o que me haveria de dar!)
Estes dias tenho-me sentido como que "anestesiada".
O olhar das pessoas que observo continua a ser o verdadeiro "espelho das suas almas". Nunca (ou raramente) me engano. Observa-se a tristeza, a verdade e a mentira, a dor, a esperança, a saudade, o amor. Vê-se tão bem. É impossível disfarçá-las.
Oiço a MegaFm, a minha preferida.
Pouso aqui e ali o meu olhar cansado e acho engraçada a ideia de quem escreveu as suas maiores manias... Penso nas minhas...
Será a mania algo que faço todos os dias ou com muita frequência e que sei que farei para o resto da minha vida? Talvez...
As que me surgem: assoar-me logo de manhã (!!!), olhar muitas vezes para o telemóvel durante o dia, meter lápis preto nos olhos, beber pelo menos 2 litros de água/dia (a garrafa é a minha fiel companheira) fruta e iogurtes...ler, música, ler, música...
Há pouco, no meio de muitas vidas, eis que sobressai esta frase:
"Passei o meu dia de anos com uma arma na mão, o dia e noite, a olhar para a neve"...
Continuo a dizer: eu sou uma formiguinha no meio destas pessoas!
Publicado por Eva Jasmim às quinta-feira, março 01, 2007 0 comentários Referência: Fevereiro de 2006